Bom, hoje é o último dia da temporada do Cocoonings. A gente volta em Janeiro. Foi importante esta temporada. O grupo conseguiu sair do vermelho, e digo do vermelho mesmo, o vermelho financeiro. Conseguimos pagar débitos como o do aluguel do lugar onde guardávamos os cenários e as demais bugingangas do Cemitério. E foi bem legal de fazer também. Me diverti um bocado em cena com o Robocop e um outro bocado lá no camarim ouvindo a Mariana, a Fabiana e o Gustavo Brandão se divertirem também. Grandes pessoas, grandes amigos. Estou feliz também por ter mais uma vez trabalhado com o Gabriel, que é meio o cara que me lançou no teatro, digo meio, sem nenhum demérito ou falta de gratidão (o Gabriel me lançou como ator), e sim porque, se alguma coisa eu faço no teatro, no meio de pessoas tão fodidas e em um grupo tão fodido como o Cemitério (veja bem, um grupo que pode se dar ao luxo de ter alguém como o Marcelo na técnica) é por causa de pessoas como a Fernanda que, além de me permitir observar de perto todo o seu talento, também me ajudou e ajuda a dar rumo à minha vida. Mas é principalmente por causa do Mário. O Mário fez de mim um cara de teatro - se o pai do meu brother Douglas Kim diz que tem um filho poeta, meu pai, apesar de nunca ter ido a sequer uma peça em que atuei, diz que faço parte de um grupo de teatro.
Enfim , estou bastante feliz, depois de um ano difícil em inúmeros sentidos, depois de ter passado o que passei por conta da minha hérnia de disco, depois de ter enfrentado (nunca me faltou coragem e convicção em meus sentimentos) coisas relacionadas à minha vida afetiva como enfrentei, ter conseguido fazer duas peças na Mostra de 25 anos do Cemitério - Chapa Quente e Ovelhas -ter conseguido atuar em 4 curtas metragens bacanas, sendo que um deles, o único que já está pronto, ter conseguido ser selecionado para algumas coisas legais, e, ainda por cima, encerrar o ano com uma temporada tão bacana como esta do Cocoonings, é de se orgulhar.
Eu sei que não sou um "grande ator"( O Nelsinho vai me ajudar a dar um jeito nisso), mas também não tenho uma carreira tão extensa assim. Eu não escrevi um livro. Não dirigi nenhum espetáculo de teatro. Não plantei a porra da árvore. Mas tenho vida e luta pela frente. Talvez eu seja um romântico, um sonhador ou até mesmo um iludido, mas se isso é ilusão, de nada me serve a realidade.
Hoje me despeço do adonahernia. É, isto está ficando por aqui. Mas não me excluam de seus blogs ainda. Não desistam de saber se eu tenho alguma coisa a dizer. Não ainda. Estou mudando de casa. Estou mudando de rumo. Estou corrigindo o foco no meio do travelling para me distorcer melhor. Já estou de blog pronto vindo por aí. Na verdade, estou apenas começando... ou recomeçando...em tudo... novamente.
domingo, 16 de dezembro de 2007
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
ANIVERSÁRIO DA ANA
Minha mulher faz aniversário hoje. Ela merece umas geladas e ter os amigos por perto. A gente vai tomar umas depois da peça em algum boteco. Quem quiser ir é só colar na saída do Ruth Escobar.
COCOONINGS
A palavra inglesa "Cocoon" significa casulo. Teve até um filminho nos anos 80 com esse nome. A expressão "Cocoonings" passou, então, a ser usada no final dos anos 80 para designar esse tipo de pessoa que se recusa a sair de casa. Na verdade a expressão só surgiu graças ao avanço tecnológico que permite às pessoas ter quase tudo em sua própria casa (assistir ao filme que quiser, usar computador, ouvir música, pedir comida e bebida pelo telefone etc).
Pessoas com tendência à reclusão se fecham ainda mais em seu "casulo", segundo o teatrólogo, ator e diretor Mário Bortolotto:
"Daí veio a idéia de escrever algum texto sobre essas pessoas. Escrevi duas cenas que se transformaram em uma peça. A primeira ("Esse nosso jeito diet de ser") ironiza também o culto ao corpo, culto esse que passou a virar uma espécie de febre também nos anos 80, e que continua até hoje. Dois sujeitos obesos dividem o mesmo apartamento. Um deles resolve que vai emagrecer, mas encontra resistência e sarcasmo por parte do amigo", explica Bortolotto. A outra, de acordo com o autor, é justamente a cena que leva o título da peça "Cocoonings". Dois amigos moram em casa e fazem o possível para não sair. Eles alegam que tem tudo o que precisam na própria casa, mas a necessidade de sexo faz com que eles liguem para um disc-sexo e contratem duas garotas de Programa.
Pessoas com tendência à reclusão se fecham ainda mais em seu "casulo", segundo o teatrólogo, ator e diretor Mário Bortolotto:
"Daí veio a idéia de escrever algum texto sobre essas pessoas. Escrevi duas cenas que se transformaram em uma peça. A primeira ("Esse nosso jeito diet de ser") ironiza também o culto ao corpo, culto esse que passou a virar uma espécie de febre também nos anos 80, e que continua até hoje. Dois sujeitos obesos dividem o mesmo apartamento. Um deles resolve que vai emagrecer, mas encontra resistência e sarcasmo por parte do amigo", explica Bortolotto. A outra, de acordo com o autor, é justamente a cena que leva o título da peça "Cocoonings". Dois amigos moram em casa e fazem o possível para não sair. Eles alegam que tem tudo o que precisam na própria casa, mas a necessidade de sexo faz com que eles liguem para um disc-sexo e contratem duas garotas de Programa.
"A peça então é basicamente isso. Histórias de pessoas que não gostam de sair de casa. As duas cenas são cômicas, mesmo porque acho muito difícil escrever sobre essas pessoas em tom mais sério", conta Mário.
Ficha Técnica
texto
Mário Bortolotto
Mário Bortolotto
Direção
Gabriel Pinheiro
Trilha Sonora
Marcelo Montenegro
Iluminação
Gabriel Pinheiro
Elenco
Alessandro Bartel
Fabiana Wajman
Gustavo Brandão
Mariana Leme
Walter Figueiredo
Produção executiva
Daniella Angelotti
Fotos
Edson Kumasaka
Daniella Angelotti
Fotos
Edson Kumasaka
Local: Teatro Ruth Escobar, 209 - Bela Vista, Sala Mirian Muniz
Quando: De 17/11 à 16/12 - Sextas e sábados às 21h00 - Domingos às 20h00
Quanto: Ingressos: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (estudante ou com a apresentação da filipeta) / R$ 8,00 (comprando pela APETESP)
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
PLÍNIO MARCOS
Lembro-me de ter visto o Plínio Marcos uma vez vendendo seus livros na porta do Cultura Artistica. Acho que eu tinha ido assistir "O mistério de Irma Vap". Nesta época eu já havia visto uma montagem de "Barrela"e, minha irmã mais velha, a Rita, me emprestou um livro que ela comprou das mãos dele para eu ler : "O assassinato do anão de caralho grande". Ela também disse que o cara quase conveceu ela a subir para o apartamento dele para ler cartas para ela. Acredito que ele deve ter sido também um puta galanteador. Também lembro de ter me emocionado muito quando ele morreu.
Hoje fazem oito anos que o cara morreu...por irônia, bem no dia da Bandeira, num país que pouco se fudeu ou está se fudendo por ele.
Li esta linda carta no atirenodramaturgo, o blog do Bortolotto, me emocionei e resolvi publicar aqui para que alguém que baixe por aqui também possa se emocionar. Foi escrita pelo filho do cara, o Léo Lama, no dia da morte do pai Plínio, em 19 de novembro de 1999.
Meu pai morreu
Dia 19 de novembro é aniversário da morte do meu pai, escrevi este texto no dia em que ele morreu:19 de novembro de 99.Meu pai morreu. Todo pai morre. Agora estou aqui pensando: o que foi que meu pai me deixou? Apartamento?Não. Carro?Nem uma bicicleta. Dinheiro? Ele não conseguia pagar nem as próprias contas. Mas pagava a dos filhos. Roupas? Só um chinelo velho, mas meu pé é maior. Sem testamento, sem herança, sem nada? As peças. As peças de teatro? De quem são as peças de teatro? Meu pai era escritor. Escritor de teatro. Teatro? Teatro dá dinheiro. Tem gente que escreve peça pra ganhar dinheiro. Não, meu pai não. Não ganhou muito dinheiro com teatro. O que ganhou, gastou. Deu dinheiro pra muita gente. Meu pai não era um bom administrador. Era um “maldito”, diziam, um “marginal”, mas não era bandido. Por que ele era maldito, afinal? Será que não pensava nos filhos? Por que não escreveu peça pra ganhar dinheiro? “Ninguém tem direito de pedir a um artista que não seja subversivo.”. Meu pai escrevia sobre puta e cigano sem dente. Puta, cigano sem dente e cafetão. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. Puta e cigano sem dente? Puta, cigano sem dente e cafetão é chato, porra! Puta, cigano sem dente e presidiários não dava dinheiro. Puta, cigano sem dente e desempregados não tinha “patrocínio”. Mas eu queria tênis americano, eu queria camisa Lacoste, camisa Hang Ten.Meu pai tinha que ganhar dinheiro. Por que ele insistia em escrever peças sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários? Ele insistia. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. E o ator e Jesus Cristo e nada de “comédia comercial”. Mas eu queria o meu “All Star”, eu queria ter todos os discos dos Beatles. “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma guitarra!” E eu tive, eu tive a tal guitarra, eu comprei todos os discos dos Beatles com o dinheiro dele (depois tive que comprar tudo de novo em CD com o meu dinheiro e agora dá pra baixar de graça na internet). Calça boca fina, camisa Hang Ten. Onde ele arrumava dinheiro? Onde ele arrumava dinheiro pra me comprar tênis “All Star”? Ele achava que isso era “lixo americano”. Ele achava que essa merda importada só servia pra aumentar a nossa alienação. Meu pai era generoso. Ele não ia deixar de me dar uma coisa que eu queria, só porque ele achava que o que eu queria era imposto pela sociedade de consumo. Ele tentava me orientar, mas respeitava minha opinião de adolescente alienado.
Onde ele arrumava dinheiro?
Era época de ditadura. Escrever sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários, incomodava os “poderosos”. Porra, ainda mais essa! Já escreve sobre coisa que não dá dinheiro, mas além de não dar dinheiro, ainda é proibido? “Pai, me dá dinheiro pra comprar disco do Bob Dylan!”.
Meu pai fez novela, fez Beto Rockfeller. Mas Beto Rockfeller não conta, Beto Rockfeller era A novela, tinha a cara dele, era revolucionária. Ele fazia o Vitório, o melhor amigo do Beto. Ele ganhou um dinheiro, me comprou um tênis, uma guitarra, um... Mas A novela era na Tupi. A Tupi faliu. Meu pai foi fazer novela na Rede Globo: “Bandeira 2”. Mas a Globo é no Rio, o Rio tem praia, ele cabulava as gravações e ia pra praia: “Novela é chato pra caralho, porra! O direito da gente coçar o saco é sagrado.”, ele dizia. Ele ia pra praia e lá ficava indignado porque naquela época a Globo não punha negros nas novelas e quando punha era nos papéis de escravo ou mordomo. Meu pai escreveu no jornal “A Última Hora” do Samuel Wainer, onde ele trabalhava, que a Globo botou a Sônia Braga dois meses tomando sol pra ficar escura, em vez de chamar uma mulata pra fazer “Gabriela”. A Globo não gostou. Os “poderosos” da Rede Globo não gostaram. Fizeram ameaças, juraram de morte. Em fim, a Globo não dava mais. Quando ele tava por lá, ele bem que quis escrever novela. Afinal, eu queria dinheiro pra comprar tênis, disco, guitarra. Mas novela de puta, cafetão e cigano sem dente? Não, novela de puta, cafetão e cigano sem dente não dá. Se fosse cigano com dente, musculoso e mau ator, aí dava. Agora, cigano sem dente, pobre e fudido, não dá. Então não dá. “Na televisão brasileira, artista estrangeiro morto trabalha mais do que artista brasileiro vivo.” Tudo bem, não podia fazer peça de puta porque a ditadura não gostava, não podia novela de cigano pobre, fudido e sem dente porque a T.V. não queria. Então o que que podia? Não podia nem chamar a Rede Globo de racista, nem nada. A sinopse que ele fez pra uma novela quando finalmente a Globo chamou ele, era de uma tribo de ciganos que estupravam as filhas dos empresários e...bem, não aprovaram. E as portas iam se fechando. E a ditadura ali, descendo o cassete. E eu queria o meu tênis “All Star”! “Pai, porra, pai, eu quero dinheiro pra comprar time de botão!” Mas enquanto os “poderosos” iam dizendo: Não! Não! Não! Ele ia ganhando o respeito dos humildes de coração, um “povo que berra da geral sem nunca influir no resultado”, um povo fudido, os marginais, as putas, os ciganos sem dente, os presidiários, um povo que não aparecia na T.V. “Pobre na Rede Globo almoça e janta todo dia”. Pobre na Rede Globo tem dente, favela na Rede Globo não tem rato. Esse povo não era o povo dele. O povo dele era entre outros, os sambistas, não esses de agora, de terno Armani, cercados de loiras recauchutadas, mas, os sambistas das escolas de samba de São Paulo. Os sambistas marginalizados, os que nunca gravaram CD. O Zeca da Casa Verde, o Talismã, o Jangada, o Toniquinho Batuqueiro, o Geraldo Filme, enfim, os que morrem na merda. “Silêncio, o sambista está dormindo, ele foi, mas foi sorrindo, a notícia chegou quando anoiteceu...”.
Então a solução era fazer show com os sambistas. Meu pai contava histórias e os sambistas cantavam suas músicas. Mas os sambistas eram crioulos. Negros? Negro não podia. Em plena ditadura, Plino Marcos e “a negrada”? Que papo é esse? Poder, podia, mas ninguém queria ver. “A burguesia não me quer”, ele dizia. Não podia peça de puta e novela de cigano sem dente pobre e fudido, não podia dizer que a Globo era racista e ninguém queria ver show com “a negrada”. Então o que que podia? “Pai, me dá dinheiro pra comprar figurinha do álbum Brasil Novo!”
A ditadura quando eu tinha 7 anos tava em todo lugar, em cada esquina, no meio de cada casal que fazia “amor com medo”, nos porões do Doicodi e nas torturas atrozes que muitos sofriam e eu lá: “Pai, me leva na Expoex, pai, me leva na Expoex! A Expoex é a exposição do exército! Eu quero ver os soldados, pai! Eu quero ver os tanques!” E ele me levava. Senão eu chorava. Eu chorava se eu fosse censurado e não pudesse ver a Expoex.
Quando eu tinha uns 12, 13 anos, lá estava o ônibus da escola pronto pra partir pra Porto Seguro com todos os meus amiguinhos dentro e os pais, do lado de fora, dando tchauzinho. E um amiguinho meu perguntou: “Quem é seu pai?” Eu não tive dúvida: “Meu pai é aquele!” E o meu amiguinho: “Aquele de terno e gravata? Aquele que tá conversando com o meu pai?” E eu: “É, aquele.” O meu amiguinho gritou: “Pai, esse aí é o pai do Leo!” E a professora ouviu. Não, meu pai não era aquele de terno e gravata. Meu pai era outro. Era o que todo mundo tava chamando de mendigo. Meu pai era aquele de macacão e chinelo! Gordo de macacão e chinelo! “O pai do Leo é mendigo, o pai do Leo é mendigo!” Afinal, quem trabalha tem que usar terno e gravata. Naquela época, um moleque de 12, 13 anos, era um tapado. Ou isso era característica minha? “Pai, por que você não trabalha? Pai, por que você dorme até meio dia? Pai, por que o pai do Paulinho tem carro e você não? Por que você chega de madrugada em casa? Pai, por que você anda de macacão e chinelo? Pai, me dá dinheiro pra comprar...” E o meu pai me dava dinheiro. Eu estudava em escola de “burguês”. Eu estudei nas “melhores escolas”. E olha que o meu pai odiava escola. “A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais do que as armas; por isso, a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes”, ele dizia. Ele saiu da escola na 4ª série do primário. Ele era canhoto. Na escola, as professoras o obrigavam a escrever com a mão direita. Ele fugiu da escola, ele sempre foi da esquerda. Era chamado de analfabeto. Com 21 anos escreveu “Barrela!”. “Me chamavam de analfabeto, como se isso fosse privilégio meu, neste país.” Meu avô queria que ele trabalhasse no Banco do Brasil, mas ele queria é subir num banco no meio da praça e fazer números de palhaço. A família chegou até a pensar que ele era débil mental. Meu pai foi pro circo. Ele amava o circo. Foi ser palhaço de circo. Era o palhaço Frajola. A escola dele era o circo, a minha era escola de “burguês”. Mas como ele pagava a minha escola?Foi preso, foi solto, ameaçado, escrevia em jornais e revistas, quase todos que existiam. Foi despedido de todos. A censura não queria meu pai escrevendo em lugar nenhum. O que fazer? Sair do país? Ele não falava direito nem o português. O que fazer? “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma calça Soft Machine!”.
Uma vez o meu pai tava com uma dívida muito grande, tava com dificuldade de pagar as prestações de um apartamento que ele comprou pra gente. Daí um belo dia a Ford ligou pra ele, convidando pra fazer um comercial. Era uma puta grana, dava pra pagar as dívidas e ficar bem tranqüilo por uns tempos. Meu pai não fazia comercial.
Foi vender livro na rua. Nas portas dos teatros, nas portas das faculdades, nos bares. Foi vender livro na porta de teatros aonde se apresentavam artistas piores do que ele. Ele mesmo editava os livros, ele mesmo ia vender. E podia? Não. Não podia. Várias vezes ele foi expulso pelo “rapa” como um camelô comum. E ele chorava? “Perseguido, o caralho! Eu não sou nenhum mosca-morta. Eu fiz por merecer. Fui uma pessoa que aproveitou bem a fama. Eu apedrejei carro de governador, quebrei vidraça de Banco. Foi uma farra. Não teve mau tempo.” Tinha. Tinha mau tempo, mas ele não reclamava, eu nunca ouvi o meu pai reclamando da vida. Eu nunca ouvi o cara dizer que a vida tava difícil, ou que era “foda”. Não. Ele só reclamava das injustiças. Ele berrava contra as injustiças, os preconceitos, a apatia. Meu pai é o Plínio Marcos, porra! Bela da, tem gente que nunca ouviu falar. Pra muitos era só um fudido que não deu certo na vida, andando feito mendigo pelo centro da cidade. Já morreu.
Não era melhor do que ninguém.(Não?)
“Tudo se consegue com esforço; não se chega a lugar nenhum sem caminhar.”
Com 15 anos eu quis sair da escola. Ele disse: “Sai logo dessa merda, eu te sustento até você encontrar sua vocação!” Eu saí, eu saí daquela merda na metade do 1º colegial. Acho que qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade, sabe: o ensino do jeito que é, faz mal pra saúde.
Eu devia ter uns 17 anos, era de madrugada. Eu morava com ele. Eu tava na mesa da sala com o violão, triste, querendo encontrar a minha vocação, sem saber o que dizer, inibido, pensando em todos os artistas que eram muito melhores do que eu. Meu pai levantou pra tomar água, me viu ali, não disse nada. Foi até o escritório, voltou com um livro e leu um poema pra mim. “O corvo” do Edgar Allan Poe. Não disse nada, só leu a poesia. Não foi o conteúdo, foi o tom da voz dele, aquela voz doce que ele tinha. Ele declamava e eu ouvia como se ele me pegasse no colo. Foi dormir e me deixou ali, ouvindo o corvo dizer: “para sempre!”. Eu virei escritor, com 21 anos escrevi “Dores de Amores”. Meu pai era um incentivador, idolatrava os filhos. Queria ser mergulhador só porque o Kiko, meu irmão, é. A Aninha, minha irmã, era tudo pra ele. Eu fiz vários shows com ele, pelas faculdades, pelos teatros, pelos bares. Ele contava histórias e eu tocava violão. Meu pai era generoso, violento, essencial, amava, amava tanto as pessoas que chegava mesmo a odiá-las. Lutava, berrava e me acordava. Meu pai não me deixou apartamento, carro, dinheiro, bicicleta. Nem o chinelo dele me serve. Eu tive e tenho que ganhar o meu próprio dinheiro. Até hoje, muito pouca gente quer montar as suas peças e muito pouca gente quer assistir. Meu pai já não precisa mais vender livro na rua, pra quem não quer comprar, ou pra quem compra só pra “ajudar”. O que eu mais queria é que ele me ouvisse agora: “Pai, você não me deixou nada que se possa enxergar. Nem carro, nem apartamento, nem bicicleta, nem chinelo. Me deixou a sua indignação, um pouco do seu temperamento, a lembrança de ver você acordando todo dia com uma puta força de vontade, com uma puta vontade de viver, sempre alegre, sempre fazendo piada das próprias desgraças, sempre dando tudo que ganhava pros filhos, sem nunca acumular porra nenhuma.” E se ele me escutasse ele diria, com um sorriso malandro sem dentes, segurando as lágrimas: “Ê, Leo Lama!” Meu pai não sabia receber elogios. Mas se ele me ouvisse agora, eu diria:
Pai, eu preciso te contar, no seu velório foi muita gente, pai. No seu velório, estiveram os maiores artistas do país. Médicos, políticos, advogados, empresários, fãs, gente do povo, crianças e os sambistas. Os sambistas cantaram sambas em sua homenagem, pai. Suas mulheres, seus amigos, seus inimigos, todos nós, todos nós te aplaudimos quando o seu caixão foi colocado em cima do carro de bombeiro. Eu tava segurando uma aba, o Kiko outra. Você foi cremado, pai. Seus amigos fizeram discursos emocionados, disseram: “Plínio Marcos, um grito de liberdade!” Nós jogamos suas cinzas no mar de Santos. Na ponta da praia, onde você passou sua infância. O Jabaquara, seu time, ficou na porta do pequeno estádio, uniformizado, com a mão no coração, vendo o cortejo passar. O povo na areia batia no surdo e entoava um canto mudo no crepúsculo santista e nós no barco deixávamos você escorrer pelos nossos dedos como se você nem tivesse existido. Eu ainda quis te achar no meio do mar, mas de repente já era só o mar. E você foi, como todo mundo vai.
É isso aí, pai: tanta gente te amava. Você sabia? Acho que ninguém te amou tanto como a minha mãe. O amor dela ecoa em mim. Mas, e eu, pai? E eu? Será que eu vou ter a mesma fibra que você? Eu não gosto de viver como você gostava. Eu não tenho a sua coragem. “A poesia, a magia, a arte, as grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos.” Eu acho que eu vou me vender, pai, eu acho que eu já sou um vendido. Eu só queria ser essencial, essencial como você. É difícil. Eu reclamo. A vida tá uma bosta! Tá difícil de encontrar pessoas essenciais, pai. As pessoas só falam e pensam no que é supérfluo. Eu não tenho assunto. Eu me sinto sozinho. Eu não sei sobre o que escrever. O mundo tá se destruindo, tem muita gente fudida, tem muitas festas e muita fome. Que indecência, pai, que vergonha que eu sinto desse tempo que eu vivo. Eu sei que você não tem saco pra choramingo, pai, mas me deixa desabafar, pai, só hoje, me deixa te falar sobre o sonho dessa gente, você sabe, essa gente, os “homens-pregos”, fixos no mesmo lugar. Essa gente quer ter carro, pai, casa com piscina, essa gente quer ser rica e famosa, essa gente quer ser musculosa e quer ter bunda, essa gente diz que acredita em Deus e fode ele, essa gente não quer ser essencial, pai, essa gente... essa é a minha gente, pai, às vezes eu me olho no espelho e me acho parecido com essa gente.Me perdoa.
Um beijo do seu filho, Nado, que ainda usa o nome artístico que a gente inventou juntos: Leo Lama
Hoje fazem oito anos que o cara morreu...por irônia, bem no dia da Bandeira, num país que pouco se fudeu ou está se fudendo por ele.
Li esta linda carta no atirenodramaturgo, o blog do Bortolotto, me emocionei e resolvi publicar aqui para que alguém que baixe por aqui também possa se emocionar. Foi escrita pelo filho do cara, o Léo Lama, no dia da morte do pai Plínio, em 19 de novembro de 1999.
Meu pai morreu
Dia 19 de novembro é aniversário da morte do meu pai, escrevi este texto no dia em que ele morreu:19 de novembro de 99.Meu pai morreu. Todo pai morre. Agora estou aqui pensando: o que foi que meu pai me deixou? Apartamento?Não. Carro?Nem uma bicicleta. Dinheiro? Ele não conseguia pagar nem as próprias contas. Mas pagava a dos filhos. Roupas? Só um chinelo velho, mas meu pé é maior. Sem testamento, sem herança, sem nada? As peças. As peças de teatro? De quem são as peças de teatro? Meu pai era escritor. Escritor de teatro. Teatro? Teatro dá dinheiro. Tem gente que escreve peça pra ganhar dinheiro. Não, meu pai não. Não ganhou muito dinheiro com teatro. O que ganhou, gastou. Deu dinheiro pra muita gente. Meu pai não era um bom administrador. Era um “maldito”, diziam, um “marginal”, mas não era bandido. Por que ele era maldito, afinal? Será que não pensava nos filhos? Por que não escreveu peça pra ganhar dinheiro? “Ninguém tem direito de pedir a um artista que não seja subversivo.”. Meu pai escrevia sobre puta e cigano sem dente. Puta, cigano sem dente e cafetão. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. Puta e cigano sem dente? Puta, cigano sem dente e cafetão é chato, porra! Puta, cigano sem dente e presidiários não dava dinheiro. Puta, cigano sem dente e desempregados não tinha “patrocínio”. Mas eu queria tênis americano, eu queria camisa Lacoste, camisa Hang Ten.Meu pai tinha que ganhar dinheiro. Por que ele insistia em escrever peças sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários? Ele insistia. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. E o ator e Jesus Cristo e nada de “comédia comercial”. Mas eu queria o meu “All Star”, eu queria ter todos os discos dos Beatles. “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma guitarra!” E eu tive, eu tive a tal guitarra, eu comprei todos os discos dos Beatles com o dinheiro dele (depois tive que comprar tudo de novo em CD com o meu dinheiro e agora dá pra baixar de graça na internet). Calça boca fina, camisa Hang Ten. Onde ele arrumava dinheiro? Onde ele arrumava dinheiro pra me comprar tênis “All Star”? Ele achava que isso era “lixo americano”. Ele achava que essa merda importada só servia pra aumentar a nossa alienação. Meu pai era generoso. Ele não ia deixar de me dar uma coisa que eu queria, só porque ele achava que o que eu queria era imposto pela sociedade de consumo. Ele tentava me orientar, mas respeitava minha opinião de adolescente alienado.
Onde ele arrumava dinheiro?
Era época de ditadura. Escrever sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários, incomodava os “poderosos”. Porra, ainda mais essa! Já escreve sobre coisa que não dá dinheiro, mas além de não dar dinheiro, ainda é proibido? “Pai, me dá dinheiro pra comprar disco do Bob Dylan!”.
Meu pai fez novela, fez Beto Rockfeller. Mas Beto Rockfeller não conta, Beto Rockfeller era A novela, tinha a cara dele, era revolucionária. Ele fazia o Vitório, o melhor amigo do Beto. Ele ganhou um dinheiro, me comprou um tênis, uma guitarra, um... Mas A novela era na Tupi. A Tupi faliu. Meu pai foi fazer novela na Rede Globo: “Bandeira 2”. Mas a Globo é no Rio, o Rio tem praia, ele cabulava as gravações e ia pra praia: “Novela é chato pra caralho, porra! O direito da gente coçar o saco é sagrado.”, ele dizia. Ele ia pra praia e lá ficava indignado porque naquela época a Globo não punha negros nas novelas e quando punha era nos papéis de escravo ou mordomo. Meu pai escreveu no jornal “A Última Hora” do Samuel Wainer, onde ele trabalhava, que a Globo botou a Sônia Braga dois meses tomando sol pra ficar escura, em vez de chamar uma mulata pra fazer “Gabriela”. A Globo não gostou. Os “poderosos” da Rede Globo não gostaram. Fizeram ameaças, juraram de morte. Em fim, a Globo não dava mais. Quando ele tava por lá, ele bem que quis escrever novela. Afinal, eu queria dinheiro pra comprar tênis, disco, guitarra. Mas novela de puta, cafetão e cigano sem dente? Não, novela de puta, cafetão e cigano sem dente não dá. Se fosse cigano com dente, musculoso e mau ator, aí dava. Agora, cigano sem dente, pobre e fudido, não dá. Então não dá. “Na televisão brasileira, artista estrangeiro morto trabalha mais do que artista brasileiro vivo.” Tudo bem, não podia fazer peça de puta porque a ditadura não gostava, não podia novela de cigano pobre, fudido e sem dente porque a T.V. não queria. Então o que que podia? Não podia nem chamar a Rede Globo de racista, nem nada. A sinopse que ele fez pra uma novela quando finalmente a Globo chamou ele, era de uma tribo de ciganos que estupravam as filhas dos empresários e...bem, não aprovaram. E as portas iam se fechando. E a ditadura ali, descendo o cassete. E eu queria o meu tênis “All Star”! “Pai, porra, pai, eu quero dinheiro pra comprar time de botão!” Mas enquanto os “poderosos” iam dizendo: Não! Não! Não! Ele ia ganhando o respeito dos humildes de coração, um “povo que berra da geral sem nunca influir no resultado”, um povo fudido, os marginais, as putas, os ciganos sem dente, os presidiários, um povo que não aparecia na T.V. “Pobre na Rede Globo almoça e janta todo dia”. Pobre na Rede Globo tem dente, favela na Rede Globo não tem rato. Esse povo não era o povo dele. O povo dele era entre outros, os sambistas, não esses de agora, de terno Armani, cercados de loiras recauchutadas, mas, os sambistas das escolas de samba de São Paulo. Os sambistas marginalizados, os que nunca gravaram CD. O Zeca da Casa Verde, o Talismã, o Jangada, o Toniquinho Batuqueiro, o Geraldo Filme, enfim, os que morrem na merda. “Silêncio, o sambista está dormindo, ele foi, mas foi sorrindo, a notícia chegou quando anoiteceu...”.
Então a solução era fazer show com os sambistas. Meu pai contava histórias e os sambistas cantavam suas músicas. Mas os sambistas eram crioulos. Negros? Negro não podia. Em plena ditadura, Plino Marcos e “a negrada”? Que papo é esse? Poder, podia, mas ninguém queria ver. “A burguesia não me quer”, ele dizia. Não podia peça de puta e novela de cigano sem dente pobre e fudido, não podia dizer que a Globo era racista e ninguém queria ver show com “a negrada”. Então o que que podia? “Pai, me dá dinheiro pra comprar figurinha do álbum Brasil Novo!”
A ditadura quando eu tinha 7 anos tava em todo lugar, em cada esquina, no meio de cada casal que fazia “amor com medo”, nos porões do Doicodi e nas torturas atrozes que muitos sofriam e eu lá: “Pai, me leva na Expoex, pai, me leva na Expoex! A Expoex é a exposição do exército! Eu quero ver os soldados, pai! Eu quero ver os tanques!” E ele me levava. Senão eu chorava. Eu chorava se eu fosse censurado e não pudesse ver a Expoex.
Quando eu tinha uns 12, 13 anos, lá estava o ônibus da escola pronto pra partir pra Porto Seguro com todos os meus amiguinhos dentro e os pais, do lado de fora, dando tchauzinho. E um amiguinho meu perguntou: “Quem é seu pai?” Eu não tive dúvida: “Meu pai é aquele!” E o meu amiguinho: “Aquele de terno e gravata? Aquele que tá conversando com o meu pai?” E eu: “É, aquele.” O meu amiguinho gritou: “Pai, esse aí é o pai do Leo!” E a professora ouviu. Não, meu pai não era aquele de terno e gravata. Meu pai era outro. Era o que todo mundo tava chamando de mendigo. Meu pai era aquele de macacão e chinelo! Gordo de macacão e chinelo! “O pai do Leo é mendigo, o pai do Leo é mendigo!” Afinal, quem trabalha tem que usar terno e gravata. Naquela época, um moleque de 12, 13 anos, era um tapado. Ou isso era característica minha? “Pai, por que você não trabalha? Pai, por que você dorme até meio dia? Pai, por que o pai do Paulinho tem carro e você não? Por que você chega de madrugada em casa? Pai, por que você anda de macacão e chinelo? Pai, me dá dinheiro pra comprar...” E o meu pai me dava dinheiro. Eu estudava em escola de “burguês”. Eu estudei nas “melhores escolas”. E olha que o meu pai odiava escola. “A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais do que as armas; por isso, a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes”, ele dizia. Ele saiu da escola na 4ª série do primário. Ele era canhoto. Na escola, as professoras o obrigavam a escrever com a mão direita. Ele fugiu da escola, ele sempre foi da esquerda. Era chamado de analfabeto. Com 21 anos escreveu “Barrela!”. “Me chamavam de analfabeto, como se isso fosse privilégio meu, neste país.” Meu avô queria que ele trabalhasse no Banco do Brasil, mas ele queria é subir num banco no meio da praça e fazer números de palhaço. A família chegou até a pensar que ele era débil mental. Meu pai foi pro circo. Ele amava o circo. Foi ser palhaço de circo. Era o palhaço Frajola. A escola dele era o circo, a minha era escola de “burguês”. Mas como ele pagava a minha escola?Foi preso, foi solto, ameaçado, escrevia em jornais e revistas, quase todos que existiam. Foi despedido de todos. A censura não queria meu pai escrevendo em lugar nenhum. O que fazer? Sair do país? Ele não falava direito nem o português. O que fazer? “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma calça Soft Machine!”.
Uma vez o meu pai tava com uma dívida muito grande, tava com dificuldade de pagar as prestações de um apartamento que ele comprou pra gente. Daí um belo dia a Ford ligou pra ele, convidando pra fazer um comercial. Era uma puta grana, dava pra pagar as dívidas e ficar bem tranqüilo por uns tempos. Meu pai não fazia comercial.
Foi vender livro na rua. Nas portas dos teatros, nas portas das faculdades, nos bares. Foi vender livro na porta de teatros aonde se apresentavam artistas piores do que ele. Ele mesmo editava os livros, ele mesmo ia vender. E podia? Não. Não podia. Várias vezes ele foi expulso pelo “rapa” como um camelô comum. E ele chorava? “Perseguido, o caralho! Eu não sou nenhum mosca-morta. Eu fiz por merecer. Fui uma pessoa que aproveitou bem a fama. Eu apedrejei carro de governador, quebrei vidraça de Banco. Foi uma farra. Não teve mau tempo.” Tinha. Tinha mau tempo, mas ele não reclamava, eu nunca ouvi o meu pai reclamando da vida. Eu nunca ouvi o cara dizer que a vida tava difícil, ou que era “foda”. Não. Ele só reclamava das injustiças. Ele berrava contra as injustiças, os preconceitos, a apatia. Meu pai é o Plínio Marcos, porra! Bela da, tem gente que nunca ouviu falar. Pra muitos era só um fudido que não deu certo na vida, andando feito mendigo pelo centro da cidade. Já morreu.
Não era melhor do que ninguém.(Não?)
“Tudo se consegue com esforço; não se chega a lugar nenhum sem caminhar.”
Com 15 anos eu quis sair da escola. Ele disse: “Sai logo dessa merda, eu te sustento até você encontrar sua vocação!” Eu saí, eu saí daquela merda na metade do 1º colegial. Acho que qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade, sabe: o ensino do jeito que é, faz mal pra saúde.
Eu devia ter uns 17 anos, era de madrugada. Eu morava com ele. Eu tava na mesa da sala com o violão, triste, querendo encontrar a minha vocação, sem saber o que dizer, inibido, pensando em todos os artistas que eram muito melhores do que eu. Meu pai levantou pra tomar água, me viu ali, não disse nada. Foi até o escritório, voltou com um livro e leu um poema pra mim. “O corvo” do Edgar Allan Poe. Não disse nada, só leu a poesia. Não foi o conteúdo, foi o tom da voz dele, aquela voz doce que ele tinha. Ele declamava e eu ouvia como se ele me pegasse no colo. Foi dormir e me deixou ali, ouvindo o corvo dizer: “para sempre!”. Eu virei escritor, com 21 anos escrevi “Dores de Amores”. Meu pai era um incentivador, idolatrava os filhos. Queria ser mergulhador só porque o Kiko, meu irmão, é. A Aninha, minha irmã, era tudo pra ele. Eu fiz vários shows com ele, pelas faculdades, pelos teatros, pelos bares. Ele contava histórias e eu tocava violão. Meu pai era generoso, violento, essencial, amava, amava tanto as pessoas que chegava mesmo a odiá-las. Lutava, berrava e me acordava. Meu pai não me deixou apartamento, carro, dinheiro, bicicleta. Nem o chinelo dele me serve. Eu tive e tenho que ganhar o meu próprio dinheiro. Até hoje, muito pouca gente quer montar as suas peças e muito pouca gente quer assistir. Meu pai já não precisa mais vender livro na rua, pra quem não quer comprar, ou pra quem compra só pra “ajudar”. O que eu mais queria é que ele me ouvisse agora: “Pai, você não me deixou nada que se possa enxergar. Nem carro, nem apartamento, nem bicicleta, nem chinelo. Me deixou a sua indignação, um pouco do seu temperamento, a lembrança de ver você acordando todo dia com uma puta força de vontade, com uma puta vontade de viver, sempre alegre, sempre fazendo piada das próprias desgraças, sempre dando tudo que ganhava pros filhos, sem nunca acumular porra nenhuma.” E se ele me escutasse ele diria, com um sorriso malandro sem dentes, segurando as lágrimas: “Ê, Leo Lama!” Meu pai não sabia receber elogios. Mas se ele me ouvisse agora, eu diria:
Pai, eu preciso te contar, no seu velório foi muita gente, pai. No seu velório, estiveram os maiores artistas do país. Médicos, políticos, advogados, empresários, fãs, gente do povo, crianças e os sambistas. Os sambistas cantaram sambas em sua homenagem, pai. Suas mulheres, seus amigos, seus inimigos, todos nós, todos nós te aplaudimos quando o seu caixão foi colocado em cima do carro de bombeiro. Eu tava segurando uma aba, o Kiko outra. Você foi cremado, pai. Seus amigos fizeram discursos emocionados, disseram: “Plínio Marcos, um grito de liberdade!” Nós jogamos suas cinzas no mar de Santos. Na ponta da praia, onde você passou sua infância. O Jabaquara, seu time, ficou na porta do pequeno estádio, uniformizado, com a mão no coração, vendo o cortejo passar. O povo na areia batia no surdo e entoava um canto mudo no crepúsculo santista e nós no barco deixávamos você escorrer pelos nossos dedos como se você nem tivesse existido. Eu ainda quis te achar no meio do mar, mas de repente já era só o mar. E você foi, como todo mundo vai.
É isso aí, pai: tanta gente te amava. Você sabia? Acho que ninguém te amou tanto como a minha mãe. O amor dela ecoa em mim. Mas, e eu, pai? E eu? Será que eu vou ter a mesma fibra que você? Eu não gosto de viver como você gostava. Eu não tenho a sua coragem. “A poesia, a magia, a arte, as grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos.” Eu acho que eu vou me vender, pai, eu acho que eu já sou um vendido. Eu só queria ser essencial, essencial como você. É difícil. Eu reclamo. A vida tá uma bosta! Tá difícil de encontrar pessoas essenciais, pai. As pessoas só falam e pensam no que é supérfluo. Eu não tenho assunto. Eu me sinto sozinho. Eu não sei sobre o que escrever. O mundo tá se destruindo, tem muita gente fudida, tem muitas festas e muita fome. Que indecência, pai, que vergonha que eu sinto desse tempo que eu vivo. Eu sei que você não tem saco pra choramingo, pai, mas me deixa desabafar, pai, só hoje, me deixa te falar sobre o sonho dessa gente, você sabe, essa gente, os “homens-pregos”, fixos no mesmo lugar. Essa gente quer ter carro, pai, casa com piscina, essa gente quer ser rica e famosa, essa gente quer ser musculosa e quer ter bunda, essa gente diz que acredita em Deus e fode ele, essa gente não quer ser essencial, pai, essa gente... essa é a minha gente, pai, às vezes eu me olho no espelho e me acho parecido com essa gente.Me perdoa.
Um beijo do seu filho, Nado, que ainda usa o nome artístico que a gente inventou juntos: Leo Lama
domingo, 18 de novembro de 2007
FOI DO CARALHO...
... é o que eu posso dizer depois da sexta gorda no Parlapatões, depois da estréia no Ruth Escobar.
Simplesmente do caralho.
O elenco mandou bem pra caralho!
O Gabriel mandou bem pra caralho!
O Marcelo mandou bem pra caralho!
O Edinho mandou bem pra caralho!
A Dani mandou bem pra caralho!
O Público riu pra caralho!
É, é um texto tão simples, né Mario... e bom pra caralho!
e nós estamos bem vivos!
Vivos pra caralho!
Simplesmente do caralho.
O elenco mandou bem pra caralho!
O Gabriel mandou bem pra caralho!
O Marcelo mandou bem pra caralho!
O Edinho mandou bem pra caralho!
A Dani mandou bem pra caralho!
O Público riu pra caralho!
É, é um texto tão simples, né Mario... e bom pra caralho!
e nós estamos bem vivos!
Vivos pra caralho!
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
terça-feira, 30 de outubro de 2007
PELA METADE no Rio
Pois é, de novo. Pela Metade, o curta que eu atuei dirigido pela minha amiga Ana Divino será projetado hoje na Mostra Competitiva do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro.
Consegui assistir hoje. Ficou bem bacana.
Em breve estará You Tube!
Consegui assistir hoje. Ficou bem bacana.
Em breve estará You Tube!
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Quem riu nas Satirianas por último riu melhor
A última vez que havíamos feito a peça do Márcio Américo, "O homem que queria ser Rita Cadilac", foi no Festival de Piracicaba e lá aconteceram algumas polêmicas como a da mulher (crítica de teatro) que não deixou que houvesse um debate depois da peça - não que eu goste de debates após peças de teatro, mas eu gosto de decidir se vou participar deles ou não. Lá, o público se mijou de rir literalmente, fomos aplaudidos em cena mais de uma vez e o pessoal que assistiu ficou para o debate. Eles queriam conhecer o elenco. A tal crítica não deixou.
Este final de semana, pela terceira vez, participamos com esta peça das "Satirianas", o festival que promove o grupo dos Sátiros todos os anos - nos dois sentidos. Todos sabem o que são as "Satirianas"-ponto- É uma festa do Teatro - ponto - Uma festa que acontece na coragem e na garra de centenas de atores que lá se apresentam sem receber sequer o dinheiro da cerveja. Este ano ela foi "um pouco" mais badalada, assim como os Sátiros estão mais badalados. Mas as condições para apresentação continuam as mesmas - atrasos enormes, poucos recursos técnicos, entrada gratuita, etc.. O que é bacana é justamente o fato de ser tudo meio na porrada e mesmo assim os artistas conseguirem se apresentar para pessoas que, se pagaram ou não, não importa agora, o que realmente importa é que as pessoas ficam até as quatro da madrugada para assistirem um grupo de atores dando o sangue, e para poderem desopilar seus fígados com alguma diversão que com certeza, será concedida de bandeja para eles.
Até aí tudo bem, tudo pela causa, pela causa cadilaquiana. Agora o duro é no outro dia ler um comentário que sendo eu generoso com o repórter Lucas Neves , chamaria de infeliz, mas como sou generoso somente com quem é generoso comigo, na verdade considero um comentário sacana, de um jornalista que foi lá apenas para fazer uma "matéria" e não preparado para fazer crítica, e que se meteu a conjecturar em cima das risadas escancaradas de todo o público (o público gargalhou, aplaudiu em cena duas vezes, e ele escreveu que "riu apenas pelo avançado da hora") somente para dar cabo da pauta que lhe coube cumprir em um fim de semana proloooooongaaaaado, quando na verdade poderia estar no Guaruja, rindo de coisas que ele realmente deve achar muito mais engraçadas do que uma peça de teatro de um bando de atores desconhecidos e que, do alto de sua Folha, ele pode conjecturar e bater covardemente à vontade, que ele sabe que não lhe trará maiores consequências.
Nessa, prefiro depois de ter suado bastante durante todo o espetáculo, dançar bolero às seis horas da manhã no Amistosas com o Xico Sá, que também escreve para esta tal Folha, e que se divertiu à vontade durante toda a apresentação porque foi lá para isso, assim como todo o restante da platéia.
Que tipo de gente é essa que não se permite soltar algumas gargalhadas vez em quando, ainda mais com um texto tão engraçado quanto este do Márcio Américo e com atores tão estranhamente carismáticos como o Marquinhos Arroba e o Wilton Andrade? Deve ser muito triste ter que assistir um espetáculo apenas para escrever uma matéria. Desse tipo de gente sim, dou risadas escancaradas.
Este final de semana, pela terceira vez, participamos com esta peça das "Satirianas", o festival que promove o grupo dos Sátiros todos os anos - nos dois sentidos. Todos sabem o que são as "Satirianas"-ponto- É uma festa do Teatro - ponto - Uma festa que acontece na coragem e na garra de centenas de atores que lá se apresentam sem receber sequer o dinheiro da cerveja. Este ano ela foi "um pouco" mais badalada, assim como os Sátiros estão mais badalados. Mas as condições para apresentação continuam as mesmas - atrasos enormes, poucos recursos técnicos, entrada gratuita, etc.. O que é bacana é justamente o fato de ser tudo meio na porrada e mesmo assim os artistas conseguirem se apresentar para pessoas que, se pagaram ou não, não importa agora, o que realmente importa é que as pessoas ficam até as quatro da madrugada para assistirem um grupo de atores dando o sangue, e para poderem desopilar seus fígados com alguma diversão que com certeza, será concedida de bandeja para eles.
Até aí tudo bem, tudo pela causa, pela causa cadilaquiana. Agora o duro é no outro dia ler um comentário que sendo eu generoso com o repórter Lucas Neves , chamaria de infeliz, mas como sou generoso somente com quem é generoso comigo, na verdade considero um comentário sacana, de um jornalista que foi lá apenas para fazer uma "matéria" e não preparado para fazer crítica, e que se meteu a conjecturar em cima das risadas escancaradas de todo o público (o público gargalhou, aplaudiu em cena duas vezes, e ele escreveu que "riu apenas pelo avançado da hora") somente para dar cabo da pauta que lhe coube cumprir em um fim de semana proloooooongaaaaado, quando na verdade poderia estar no Guaruja, rindo de coisas que ele realmente deve achar muito mais engraçadas do que uma peça de teatro de um bando de atores desconhecidos e que, do alto de sua Folha, ele pode conjecturar e bater covardemente à vontade, que ele sabe que não lhe trará maiores consequências.
Nessa, prefiro depois de ter suado bastante durante todo o espetáculo, dançar bolero às seis horas da manhã no Amistosas com o Xico Sá, que também escreve para esta tal Folha, e que se divertiu à vontade durante toda a apresentação porque foi lá para isso, assim como todo o restante da platéia.
Que tipo de gente é essa que não se permite soltar algumas gargalhadas vez em quando, ainda mais com um texto tão engraçado quanto este do Márcio Américo e com atores tão estranhamente carismáticos como o Marquinhos Arroba e o Wilton Andrade? Deve ser muito triste ter que assistir um espetáculo apenas para escrever uma matéria. Desse tipo de gente sim, dou risadas escancaradas.
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
O tempo não tem sido cordial comigo e a sensação é que tudo está me escapando, tudo está se perdendo. Não, eu não estou arrependido de nada, ainda não estou cansado de nada também. Só estou começando a ficar muito longe do passado e a felicidade do futuro tá ficando na tristeza do presente rapidamente. O presente é sempre triste. A felicidade é sempre parte do passado. O meu amigo Douglas Kim me disse algo parecido com isso uma vez e parece que só agora eu estou compreendendo. Acho que estava embevecido por algum ego qualquer para dar ouvidos à ele naquela época. Tenho medo de ficar nessa - compreendendo as coisas posteriormente. Tenho medo de que meus amigos se cansem de tentarem me dizer as coisas. Tenho medo de não poder mais ouvir meus amigos e tenho medo de não ter mais o que dizer para eles. O Marião tá querendo substituir os quadros da parede. Eu só estou começando a colocá-los e acho que eles já não me dizem mais nada. Meu pai tá ficando velho e sem visão, mas não demonstra o menor sinal de cansaço, ou de tristeza. Queria saber se ele passou por isso aos trinta e sete. Queria saber se ele algum dia olhou para a vida e desejou abandoná-la - se pensou em tirar o time de campo por alguns momentos e deixar apenas a agua cair em sua cabeça no vestiário. Tenho me dado muito bem com a agua ultimamente. Meus banhos têm sido cada vez mais prolongados e quentes, como se só ali, debaixo do chuveiro, existisse a possibilidade de viver sem me enganar. Eu sei que não deveria esperar certezas da vida, aliás, eu sei bem que não deveria esperar nada dela. Eu sei que deveria é continuar cuidando das minhas doenças e tomando meus porres, um atrás do outro, apenas para continuar seguindo em frente. Dia destes fui caminhar em um parque perto daqui. Sentei no primeiro banco vago e fiquei lá, bundão no cimento vendo os cães e seus donos passarem. Tinha um texto comigo e não consegui ler. Fiquei ali, parado, com a sensação de que estava apenas de carôna em algum navio sem destino e com um bando de loucos gritando e correndo à minha volta. Tentei dizer para eles que não adiantava correr pra lugar algum. Tentei dizer que o destino era incerto e que a correnteza não tinha direção, mas seria em vão gritar para aquela gente, assim como foi em vão minha fuga para aquele parque pra fazer sei lá o que. Enfim, estou assim, acordando pra jantar e dormindo antes do café. Ando assim, com saudades do tempo em que sorrir era algo tão fácil como hoje me é fácil dormir na mesa de um bar.
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
PELA METADE em Guarulhos
Pois é, Pela Metade é um curta dirigido pela minha amiga Ana Divino do grupo Cinema de Guerrilha formado por um pessoal da Filosofia da Usp e da Escola Livre de Cinema de Santo André. Um dia abri um email-convite para um um teste, fui lá e ela acabou me escolhendo entre "um monte" de candidatos (importante esta informação não?) Gravamos nos finais de semana de fevereiro e março. Gostei bastante do processo mas até hoje ainda não vi o resultado. E ainda não será desta vez que verei, pois ele será apresentado hoje, no Festival de Curtas de Guarulhos às 15h, portanto, daqui à pouco. De qualquer forma, fica o registro.
Veja programação completa do Festival :
Núcleo Quimera de Produção
Secretaria de Cultura de Guarulhos
e Escola Viva de Artes Cênicas
apresentam:
CURTA GUARULHOS
Dias 01 e 02 de Setembro
no Teatro Adamastor Pimentas
Nos dias 01 e 02 de Setembro acontecerá o primeiro Festival de Curtas a ser realizado na cidade de Guarulhos - SP, pelo "Núcleo Quimera de Produção" em parceria com a Escola Viva de Artes Cênicas e Secretaria de Cultura de Guarulhos.
O Festival lançará o troféu "pato preto" de áudio e vídeo, inspirado no lago dos patos, Vila Galvão, onde está situada a sede da Escola Viva de Artes Cênicas. Serão premiadas com o troféu as seguintes categorias: Melhor Curta-metragem; Direção; Roteiro; Fotografia; Direção de Arte; Trilha Sonora; Edição e Júri Popular.
O objetivo deste festival é inserir a cidade no eixo de produção, exibição e apoio ao cinema nacional.
A apresentação do Festival será realizada pelas personagens "Astúcia, Prudência e Angústia", interpretadas pelos atores guarulhenses Dorival Oliveira, Felipe Almeida e Fernando Pivotto. As personagens são do espetáculo "As Bondosas", apresentada pelo grupo Expressão em Cena - 1º lugar por votação de grupos da MAC 2007 (Mostra de Artes Cênicas) - sob direção de Cláudia Nascimento .
Dia 01/09
19h - ABERTURA OFICIAL
Abertura
Trailers dos curtas selecionados.
CURTA CONVIDADO:
“ATO 2 CENA 5” de Esmir Filho e Rafael Gomes.
O Teatro, a Atriz, o Ator: uma relação de amor e ódio, uma disputa, representações, a cena e a vida. Com Maria Alice Vergueiro e Luciano Chirolli (prêmio de melhor ator no 32º Festival de Cinema de Gramado).
20h Processo de criação de Eduardo Aguilar
Apresentação de Eduardo Aguilar e exibição de seus curtas:
CLAUSTRO (2005)
2 irmãos e uma irmã de criação dividem um apartamento. O ciúme, a dor, a violência e o afeto... As relações, os meios, as metades, o meio-dia.
O QUADRO (2005)
Na casa vazia, as lembranças permanecem. No quadro de cada um, o desenho/desejo é sempre diferente. A memória e os sentimentos, fragmentos dispersos e difusos na luz do crepúsculo.
LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR (2004)
Uma fábula gótica de terror situada numa época e espaço indeterminados.
Duas jovens noviças alternam-se na busca solitária do prazer, entre o permitido e o proibido. A imagem de Nossa Sra de Lourdes confunde os sentidos de uma delas. Enquanto isso a Madre Superiora conduz um jovem Padre aos seus aposentos, revelando-lhe seu trágico destino.
São almas vagando num ‘purgatório’. Bruxas/zumbis que não buscam mais o perdão e a anuência, apenas o desejo da contravenção.
JOGOS (2005)
Uma história sobre acordar e se reinventar a cada nova manhã.
Bate Papo com o diretor.
Dia 02/09
14h – Workshop de Roteiro com o roteirista e diretor Luiz Felipe Peres.
Formado em Rádio e TV pela faculdade Cásper Líbero, Luiz Felipe Peres atua na área de curtas-metragens desde 2003. Em seu primeiro trabalho em curta, "Placebo"(2003), foi indicado no Festival Casperito 2004. Atuou na equipe dos curtas: "Sete e 1/2" (também domo diretor); "Quanto mais manga melhor" Direção: Michele Lavalle; "Se" Direção Ana Lucchese ; entre outros.
OBS: O workshop será gratuito, e os interessados deverão comparecer no horário do workshop munidos de rg.
15h – SESSÃO 1
“Pela Metade” (São Paulo - SP)
dir. Ana Divino.
Ronaldo tenta capturar um evento que se repete em sua vida.
A descolorização” (Aquidauana - MS)
dir. Danson Knetsch/Essi Rafael
A arte é colorida. A vida não.
“Vertigem Fugaz” (São Paulo - SP)
dir. Bruno Graziano
Uma garota sai correndo de uma sala de aula em plena universidade deserta. Sem saber pra onde ir, parece estar fugindo de alguém, até que...
“Decifra-me ou te devoro” (São Paulo - SP)
dir. Leandro Meneses
Rapaz caminhando pela rua tenta reconhecer um sujeito vindo em sua direção, mas a infrutífera busca feita em sua memória causa uma tensão e o encontro culmina em algo inesperado.
“Best Wishes Frank Sinatra” (Curitiba - PR)
de Eduardo Melo, Eduardo Vianna, Guilherme Ogg e Nivaldo Tim
Alberto Babaca e Porco Seboso participam de uma saga de um disco autografado pelo próprio Frank Sinatra.
“Falenópolis” (São Paulo - SP)
dir: Anderson Lima
Nádia tem 9 anos e está dividida entre o amor de um menino de sua classe e o amor platônico de um admirador secreto que lhe escreve cartas.
“Viajando” (Aquidauana - MS)
dir. Essi Rafael
Enquanto o ônibus não chega, eles viajam.
Veja programação completa do Festival :
Núcleo Quimera de Produção
Secretaria de Cultura de Guarulhos
e Escola Viva de Artes Cênicas
apresentam:
CURTA GUARULHOS
Dias 01 e 02 de Setembro
no Teatro Adamastor Pimentas
Nos dias 01 e 02 de Setembro acontecerá o primeiro Festival de Curtas a ser realizado na cidade de Guarulhos - SP, pelo "Núcleo Quimera de Produção" em parceria com a Escola Viva de Artes Cênicas e Secretaria de Cultura de Guarulhos.
O Festival lançará o troféu "pato preto" de áudio e vídeo, inspirado no lago dos patos, Vila Galvão, onde está situada a sede da Escola Viva de Artes Cênicas. Serão premiadas com o troféu as seguintes categorias: Melhor Curta-metragem; Direção; Roteiro; Fotografia; Direção de Arte; Trilha Sonora; Edição e Júri Popular.
O objetivo deste festival é inserir a cidade no eixo de produção, exibição e apoio ao cinema nacional.
A apresentação do Festival será realizada pelas personagens "Astúcia, Prudência e Angústia", interpretadas pelos atores guarulhenses Dorival Oliveira, Felipe Almeida e Fernando Pivotto. As personagens são do espetáculo "As Bondosas", apresentada pelo grupo Expressão em Cena - 1º lugar por votação de grupos da MAC 2007 (Mostra de Artes Cênicas) - sob direção de Cláudia Nascimento .
Dia 01/09
19h - ABERTURA OFICIAL
Abertura
Trailers dos curtas selecionados.
CURTA CONVIDADO:
“ATO 2 CENA 5” de Esmir Filho e Rafael Gomes.
O Teatro, a Atriz, o Ator: uma relação de amor e ódio, uma disputa, representações, a cena e a vida. Com Maria Alice Vergueiro e Luciano Chirolli (prêmio de melhor ator no 32º Festival de Cinema de Gramado).
20h Processo de criação de Eduardo Aguilar
Apresentação de Eduardo Aguilar e exibição de seus curtas:
CLAUSTRO (2005)
2 irmãos e uma irmã de criação dividem um apartamento. O ciúme, a dor, a violência e o afeto... As relações, os meios, as metades, o meio-dia.
O QUADRO (2005)
Na casa vazia, as lembranças permanecem. No quadro de cada um, o desenho/desejo é sempre diferente. A memória e os sentimentos, fragmentos dispersos e difusos na luz do crepúsculo.
LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR (2004)
Uma fábula gótica de terror situada numa época e espaço indeterminados.
Duas jovens noviças alternam-se na busca solitária do prazer, entre o permitido e o proibido. A imagem de Nossa Sra de Lourdes confunde os sentidos de uma delas. Enquanto isso a Madre Superiora conduz um jovem Padre aos seus aposentos, revelando-lhe seu trágico destino.
São almas vagando num ‘purgatório’. Bruxas/zumbis que não buscam mais o perdão e a anuência, apenas o desejo da contravenção.
JOGOS (2005)
Uma história sobre acordar e se reinventar a cada nova manhã.
Bate Papo com o diretor.
Dia 02/09
14h – Workshop de Roteiro com o roteirista e diretor Luiz Felipe Peres.
Formado em Rádio e TV pela faculdade Cásper Líbero, Luiz Felipe Peres atua na área de curtas-metragens desde 2003. Em seu primeiro trabalho em curta, "Placebo"(2003), foi indicado no Festival Casperito 2004. Atuou na equipe dos curtas: "Sete e 1/2" (também domo diretor); "Quanto mais manga melhor" Direção: Michele Lavalle; "Se" Direção Ana Lucchese ; entre outros.
OBS: O workshop será gratuito, e os interessados deverão comparecer no horário do workshop munidos de rg.
15h – SESSÃO 1
“Pela Metade” (São Paulo - SP)
dir. Ana Divino.
Ronaldo tenta capturar um evento que se repete em sua vida.
A descolorização” (Aquidauana - MS)
dir. Danson Knetsch/Essi Rafael
A arte é colorida. A vida não.
“Vertigem Fugaz” (São Paulo - SP)
dir. Bruno Graziano
Uma garota sai correndo de uma sala de aula em plena universidade deserta. Sem saber pra onde ir, parece estar fugindo de alguém, até que...
“Decifra-me ou te devoro” (São Paulo - SP)
dir. Leandro Meneses
Rapaz caminhando pela rua tenta reconhecer um sujeito vindo em sua direção, mas a infrutífera busca feita em sua memória causa uma tensão e o encontro culmina em algo inesperado.
“Best Wishes Frank Sinatra” (Curitiba - PR)
de Eduardo Melo, Eduardo Vianna, Guilherme Ogg e Nivaldo Tim
Alberto Babaca e Porco Seboso participam de uma saga de um disco autografado pelo próprio Frank Sinatra.
“Falenópolis” (São Paulo - SP)
dir: Anderson Lima
Nádia tem 9 anos e está dividida entre o amor de um menino de sua classe e o amor platônico de um admirador secreto que lhe escreve cartas.
“Viajando” (Aquidauana - MS)
dir. Essi Rafael
Enquanto o ônibus não chega, eles viajam.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Já foi
Tudo bem! Eu não estou passando muito por aqui e que não me julguem os visitantes. É assim mesmo, ou pelo menos eu acho que é assim. Não vou explicar nada. Não vou justificar nada para ninguém. Apenas não estou passando muito por aqui e acho que isso não altera nada , absolutamente nada para ninguém.
"A vida só é boa para quem não interfere...então eu sigo de boa e pego leve..." É, é Bortolotto da melhor qualidade. É um toque de amigo. Um deixa estar que acontece. Uma dose na tarde de domingo e um beijo na noite de sábado. É assim que estou andando e que minha vida vai
passando. Não se engane. Eu to trampando pra cacete. To produzindo o meu, todo dia. To vivendo. Um dia uisque outro conhaque. Um dia picanha outro maminha e assim vou indo, assim vou brigando com meus sonhos, e com meus fantasmas. Um dia blogando outro se safando de mais uma verdade. É assim e é assim que eu vou. Um beijo, um beijo para quem não desistiu nem desanimou. Um beijo e é assim que vou.
"A vida só é boa para quem não interfere...então eu sigo de boa e pego leve..." É, é Bortolotto da melhor qualidade. É um toque de amigo. Um deixa estar que acontece. Uma dose na tarde de domingo e um beijo na noite de sábado. É assim que estou andando e que minha vida vai
passando. Não se engane. Eu to trampando pra cacete. To produzindo o meu, todo dia. To vivendo. Um dia uisque outro conhaque. Um dia picanha outro maminha e assim vou indo, assim vou brigando com meus sonhos, e com meus fantasmas. Um dia blogando outro se safando de mais uma verdade. É assim e é assim que eu vou. Um beijo, um beijo para quem não desistiu nem desanimou. Um beijo e é assim que vou.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Nelson Peres e Fábio Brum
“ Hoje estréia a peça do meu amigo Nelsinho Peres. É o tipo de espetáculo que eu não iria, de jeito nenhum. Não é uma temática que me atrai. Sou um cara urbano demais pra me interessar por qualquer história do universo caipira. Só fui na primeira vez por causa do Nelsinho e valeu a pena pra caralho. O homem é um animal em cena, quebra tudo. Depois de dois minutos de espetáculo eu já tinha embarcado geral e tava cagando pra temática. E nessa temporada ainda tem o bônus da presença de Fábio Brum tocando ao vivo. Eu diria que é imperdível”.
Mário Bortolotto
02/08/2007
http://atirenodramaturgo.zip.net/
Na verdade a peça estreou semana passada. Não deu para ir. Vou hoje com certeza!
Ainda mais que o Fábio Brum tá junto.
Sou louco para fazer algum curso com o Nelsinho. Ele é um dos melhores atores que eu ja ví em cena. Já pude vê-lo fazendo um monólogo e atuando em várias outras peças com o Cemitério de Automóveis. Sempre que posso presenciar o Nelson trabalhando observo tudo. Fico Ligado. Presto atenção em tudo que ele faz nos ensaios. É desta forma que venho aprendendo a fazer teatro - observando gente de muito talento fazer. Foi uma honra dividir o palco com ele na Mostra. Valeu Marião! É isto que você e o Cemitério proporcionam! Foi através do Cemitério que conheci o Nelsinho. O Nelsinho é um desses caras que te ensinam prá cacete apenas encenando. Um dos atores mais tranquilos e concentrados com quem já trabalhei. Ótimo na comédia, Fodão no Drama.
Sou louco pra fazer um curso com o meu amigo Nelsinho... ou quem sabe um dia, uma peça.
quinta-feira, 26 de julho de 2007
Casamento
Gravando.
Tudo que você achar que vai ficar legal, não faça.
Conte até cinco, aperte o rec. Corte.
Cena do bolo.
Tudo que você achar que vai ficar legal, não faça.
Conte até cinco, aperte o rec. Corte.
Cena do bolo.
terça-feira, 24 de julho de 2007
segunda-feira, 23 de julho de 2007
segunda-feira, 16 de julho de 2007
VÁ PRA PONTE QUE RUIU !!!
Estou cansado de pessoas perfeitas e seus discursos hipócritas que duram até a curva do balcão do bar da primeira esquina. Estou cansado de pessoas e de seus sorrisos brancos amarelados sempre dispostas a tecerem comentários sobre tudo, todos e todas as coisas que acontecem e acontecerão em suas vidas e nas vidas dos outros, principalmente, e que nunca deixam sequer uma lágrima verdadeira rolar de seus olhos descontrolados que visualizam tudo, todos e todas as coisas ao mesmo tempo, menos os meus olhos diretamente, por ao menos uma frase inteira. Estou cansado de pessoas covardes que te atacam sempre pelas costas e que da maneira mais sorrateira possível, envolve mentes inocentes em suas paranóias doentias e seus delírios de herói vitimado pelas circunstâncias da vida. Estou cansado de pessoas que não assumem suas broncas, seus azares, e a própria falta de talento, e jogam suas frustrações e chatices em cima do primeiro campeão do torneio de dominó do bairro que passar na frente, só porque nunca teve coragem nem para jogar uma simples partida de dominó, tomando café e comendo biscoitos na casa da vovó, numa tarde de domingo chuvosa. Estou cansado de quem acha que sempre é vidraça e estou cansado também de quem sempre dá uma de pedra, por mim poderiam todos virarem ruínas -no pó é onde acho que eles devem ir parar e lá resolverem todas sua "pendengazinhas egoístas" e suas "vaidadezinhas" que alimentam suas vidas de pedra e de vidraça.
Estou cansado, só isso. E estou cansado só destas pessoas. Muita gente boa tem cruzado o meu caminho, amém.
As empadas continuam e eu também ainda sou ator e educador.
3021-9801 / 4224-6398 / 9489-4483
Estou cansado, só isso. E estou cansado só destas pessoas. Muita gente boa tem cruzado o meu caminho, amém.
As empadas continuam e eu também ainda sou ator e educador.
3021-9801 / 4224-6398 / 9489-4483
segunda-feira, 11 de junho de 2007
EMPADINHAS DA VÓ VILMA
É isso aí, EMPADAS SABOROSAS, feitas com carinho, tradição secular da Familia Figueiredo, receita passada de geração em geração. Coube à mim e não às minhas quatro irmãs, aprender o jeito especial com que elas são feitas. Minha mãe, a vó Vilma, ensinou. Eu e a Ana aprendemos e estamos testando novos sabores. Já estamos vendendo. Passamos o feriado fazendo-as e agora estamos aceitando encomendas. A de frango é barbara. A de palmito é divina. A de camarão é de ajoelhar na mesa do Bactéria e passar por baixo dela.
Os preços são de brother, como tudo que fazemos na vida.
Frango e palmito, apenas R$ 1,50.
Camarão, apenas R$ 3,00.
Como disse, aceitamos encomendas, e até entregamos. A gente pede apenas que encomendem com antecedência - no mínimo seis horas antes (dependendo a gente tem na hora) . Ah, tem também a coisa da quantidade. A gente entrega no mínimo 10. E, he he, não nos preocupamos com o máximo.
O telefone é o da casa da Ana 3021-9801, e tem também o celular dela 9489-4483.
O da casa da minha mãe é 4224-6398. Eu posso te atender em qq um deles, já que ando correndo entre a casa de uma e a casa da outra.
Aceito também encomendas por este blog.
Ps - qualquer dia destes as famosas EMPADINHAS DA VÓ VILMA darão as caras pela Praça Roosevelt.
É isso aí.
terça-feira, 29 de maio de 2007
É QUE EU NÃO ACREDITO EM TUDO QUE SAI NA folha de são paulo
Bem, alguns amigos do NCE/ECA - Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP, grupo do qual fiz parte por quase cinco anos em projetos ligados ao Educom.rádio - educação via ondas do rádio", me mandaram a versão dos estudantes - não publicada pelos meios de comunicação de massa - à respeito dos fatos relacionados à ocupação do prédio da reitoria da Usp. Como eu acredito que os caras estão tendo pouco ou quase nenhum espaço na mídia para divulgar o lado deles, resolvi disponibilizar aqui, neste singelo espaço denominado por este editor que vos escreve como adonahernia, o texto dos caras, assinado pela comissão de comunicação da ocupação, enviado para mim pelo meu amigo Róbson Braga.
Caso não seja do seu interesse este assunto, sugiro desde já, a leitura do meu texto Amar é exigir dos outros um pouco além daquilo tudo que eles já estão nos dando, publicado logo aqui abaixo, após o texto dos Estudantes da USP.
É isso aí.
MOVIMENTO ESTUDANTIL
A cobertura sobre a ocupação da reitoria da USP
Por Fábio Nassif (*) em 8/5/2007
(*) Em nome da Equipe de Comunicação da ocupação da reitoria da USP
Ao iniciar a ocupação do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) (em 3/5, às 17h30), os estudantes-ocupantes organizaram-se em comissões: Alimentação, Comunicação, Limpeza e Segurança. Uma das primeiras a se constituir foi a de Comunicação, formada para o atendimento à imprensa no local.
No domingo, podemos fazer uma primeira análise da cobertura da imprensa. Avaliamos o material publicado, especialmente na grande mídia, e acompanhamos, em campo, o trabalho de repórteres e fotógrafos.
Início
Quando a imprensa chegou ao local, a comissão de comunicação recebeu repórteres e fotógrafos, explicando o desencadear dos fatos, da mesma forma como foi divulgado em release para imprensa paulista. Seu teor:
"Cerca de 350 estudantes da USP ocuparam às 17h do dia 3 de maio o gabinete da reitoria da universidade, reivindicando a revogação dos decretos 51.460, 51.461, 51.471, 51.636 e 51.660 do governador José Serra, que interferem na autonomia das universidades públicas. Entre as reivindicações estão: contratação de professores, melhoria da infra-estrutura da universidade e ampliação das vagas na moradia estudantil (este documento traz a íntegra das reivindicações).
Os estudantes haviam convidado a reitora Suely Vilela para discutir os decretos e a autonomia em audiência pública, abertamente. No entanto, ela avisou que não compareceria e a reitoria confirmou presença de um representante. Na data marcada (16h do dia 3) ele não compareceu.
Os estudantes decidiram caminhar à reitoria para apresentar ao vice-reitor sua pauta de reivindicações. A segurança do prédio tentou impedir a entrada dos estudantes, que decidiram ocupar o prédio para se fazer ouvir após meses de tentativa."
Fotógrafos da Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo registraram imagens do interior do prédio ocupado. Alguns profissionais, entretanto, acharam desnecessária uma visita ao local, limitando-se a conversar com "fontes oficiais", como a assessoria de imprensa da Reitoria.
Matéria do site Folha Online, publicada às 21h36 do dia 3, intitulada " Estudantes invadem reitoria da USP; móveis e portas foram destruídos", é resultado deste comportamento. A reportagem da Folha publicou apenas informações da assessoria de imprensa, apesar de não creditar todas as observações que faz ao órgão, parecendo observações da repórter. A matéria afirma que "os estudantes quebraram portas, móveis e expulsaram todos os funcionários do prédio, que tem cerca de mil servidores", e na seqüência informa que "representantes dos alunos negam danos e afirmam que os móveis do local foram desmontados".
Se repórter e fotógrafo tiveram oportunidades de verificar pessoalmente se houve ou não quebra do mobiliário da reitoria, torna-se infundado o desencontro das declarações. Da mesma forma, o jornal deixaria de incorrer em novo erro se a repórter tivesse se dado ao trabalho de verificar que a ocupação foi realizada no final de expediente, quando o prédio já estava esvaziado. A pequena parcela de funcionários que ainda se encontrava presente saiu sem que houvesse qualquer tipo de pressão por parte dos estudantes. Em português claro, significa que os manifestantes não "expulsaram mil funcionários do prédio".
Jornalismo em tempo real
Os portais Universo Online (UOL) e Folha Online destacaram na noite de quinta-feira (3) uma única foto da ocupação, apesar das muitas fotos tiradas por Marlene Bergamo, fotógrafa do jornal. A imagem escolhida foi a da fachada do prédio, acompanhada da seguinte legenda: "Reitoria da USP é ocupada e depredada durante protesto ".
Aceitando que o valor-notícia de uma porta arrombada com os escombros do teto espalhados pelo chão é maior do que uma imagem de muitos estudantes sentados em roda discutindo a pauta de reivindicações do movimento, ressalta-se que a contextualização da imagem não foi feita devidamente.
Ao chegar ao prédio, público e acessível a qualquer pessoa, os estudantes se depararam com uma porta fechada. Tentativas frustradas de diálogo com a Reitoria se acumularam desde o início do ano, culminando em um inevitável desgaste e, conseqüentemente, numa atitude extrema. Para ocupar o prédio, a porta teve de ser aberta, o que implicou uso de força, visto a recusa dos seguranças do prédio em abrirem a porta. Os alunos, não obstante, tentaram minimizar os danos desta entrada. Além disso, a ocupação do prédio levou os alunos a zelar pela integridade do prédio.
De rabo preso com o leitor
A predisposição em desqualificar o movimento de ocupação também transparece na matéria " Estudantes ocupam reitoria da USP", veiculada pelo Último Segundo, do IG, às 19h49 do dia 3, que destaca em seu lide uma depredação jamais ocorrida: "Cerca de 300 estudantes ocuparam e depredaram a sede da reitoria da Universidade de São Paulo entre a tarde e a noite desta quinta-feira".
A edição impressa de sexta-feira (4) da Folha explicita a mesma intenção na matéria " Estudantes invadem gabinete da reitoria da USP" ao dar atenção especial para um fato de relevância jornalística duvidosa, mas de grande significância: "Um dos estudantes que não queriam deixá-la entrar [a pró-reitora de pesquisa as USP, Mayana Zatz] estava de chinelo e bermuda".
Não foi diferente o caráter que o portal G1 deu ao acontecimento: o desencontro de informações também se faz presente na cobertura do sítio noticioso das Organizações Globo. Na matéria "USP: ocupação segue até o fim de semana ", publicada na sexta-feira (4), às 20h55, uma das reivindicações dos ocupantes, que aparece na declaração de uma estudante, é reproduzida de modo equivocado: "Um dos pontos principais que queremos é o repúdio aos decretos do governador José Serra".
Mesmo antes da ocupação, a requisição do movimento estudantil sempre foi no sentido de exigir um posicionamento público da reitoria quanto aos decretos do governador José Serra, fosse ela favorável ou não a eles. No texto "Alunos criam sua própria `Virada Cultural´ durante ocupação na USP ", publicado no mesmo portal, às 04h56 do dia seguinte, a fala da estudante aparece retificada: "Um dos pontos principais que queremos é uma posição da USP sobre os decretos do governador José Serra".
Mas o portal voltou ao erro inicial com a notícia " Alunos e reitoria da USP marcam novo encontro para discutir ocupação", publicada às 15h00 do mesmo dia, na qual aparece novamente, logo no subtítulo, a reivindicação distorcida: "Alunos querem que a universidade se oponha a decretos do governo".
Em virtude dos abundantes exemplos de mau uso do material jornalístico, os ocupantes o prédio decidiram vetar a entrada de jornalistas já na noite do dia 3. A intermediação com a imprensa é feita pela Comissão de Comunicação, que abrange uma equipe de voluntários que produz internamente todo o material a ser distribuído e faz a atualização online da ocupação pelo blogue do movimento. Já foram mais de dez mil acessos à página, que conta com informações sobre a ocupação, fotos e entrevistas. Há ainda uma emissora de rádio via internet (Rádio da Ocupação FM – 106.7 MHz).
Importante ressaltar que as pautas apresentadas em nossas ações midiáticas apontam para um cenário de mobilização bastante anterior à ocupação. Problemas de infra-estrutura física e docente na USP, por exemplo, são assuntos recorrentes e de fácil acesso à imprensa. Nessa perspectiva, os equívocos ou omissões na cobertura sobre as demandas de Universidade apresentados pela mídia são sintomáticos do desinteresse dos principais veículos de comunicação em pautar e acompanhar qualitativamente as condições da educação pública paulista.
Bem, adonahernia.blogspot.com divulgou o recado.
Caso não seja do seu interesse este assunto, sugiro desde já, a leitura do meu texto Amar é exigir dos outros um pouco além daquilo tudo que eles já estão nos dando, publicado logo aqui abaixo, após o texto dos Estudantes da USP.
É isso aí.
MOVIMENTO ESTUDANTIL
A cobertura sobre a ocupação da reitoria da USP
Por Fábio Nassif (*) em 8/5/2007
(*) Em nome da Equipe de Comunicação da ocupação da reitoria da USP
Ao iniciar a ocupação do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) (em 3/5, às 17h30), os estudantes-ocupantes organizaram-se em comissões: Alimentação, Comunicação, Limpeza e Segurança. Uma das primeiras a se constituir foi a de Comunicação, formada para o atendimento à imprensa no local.
No domingo, podemos fazer uma primeira análise da cobertura da imprensa. Avaliamos o material publicado, especialmente na grande mídia, e acompanhamos, em campo, o trabalho de repórteres e fotógrafos.
Início
Quando a imprensa chegou ao local, a comissão de comunicação recebeu repórteres e fotógrafos, explicando o desencadear dos fatos, da mesma forma como foi divulgado em release para imprensa paulista. Seu teor:
"Cerca de 350 estudantes da USP ocuparam às 17h do dia 3 de maio o gabinete da reitoria da universidade, reivindicando a revogação dos decretos 51.460, 51.461, 51.471, 51.636 e 51.660 do governador José Serra, que interferem na autonomia das universidades públicas. Entre as reivindicações estão: contratação de professores, melhoria da infra-estrutura da universidade e ampliação das vagas na moradia estudantil (este documento traz a íntegra das reivindicações).
Os estudantes haviam convidado a reitora Suely Vilela para discutir os decretos e a autonomia em audiência pública, abertamente. No entanto, ela avisou que não compareceria e a reitoria confirmou presença de um representante. Na data marcada (16h do dia 3) ele não compareceu.
Os estudantes decidiram caminhar à reitoria para apresentar ao vice-reitor sua pauta de reivindicações. A segurança do prédio tentou impedir a entrada dos estudantes, que decidiram ocupar o prédio para se fazer ouvir após meses de tentativa."
Fotógrafos da Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo registraram imagens do interior do prédio ocupado. Alguns profissionais, entretanto, acharam desnecessária uma visita ao local, limitando-se a conversar com "fontes oficiais", como a assessoria de imprensa da Reitoria.
Matéria do site Folha Online, publicada às 21h36 do dia 3, intitulada " Estudantes invadem reitoria da USP; móveis e portas foram destruídos", é resultado deste comportamento. A reportagem da Folha publicou apenas informações da assessoria de imprensa, apesar de não creditar todas as observações que faz ao órgão, parecendo observações da repórter. A matéria afirma que "os estudantes quebraram portas, móveis e expulsaram todos os funcionários do prédio, que tem cerca de mil servidores", e na seqüência informa que "representantes dos alunos negam danos e afirmam que os móveis do local foram desmontados".
Se repórter e fotógrafo tiveram oportunidades de verificar pessoalmente se houve ou não quebra do mobiliário da reitoria, torna-se infundado o desencontro das declarações. Da mesma forma, o jornal deixaria de incorrer em novo erro se a repórter tivesse se dado ao trabalho de verificar que a ocupação foi realizada no final de expediente, quando o prédio já estava esvaziado. A pequena parcela de funcionários que ainda se encontrava presente saiu sem que houvesse qualquer tipo de pressão por parte dos estudantes. Em português claro, significa que os manifestantes não "expulsaram mil funcionários do prédio".
Jornalismo em tempo real
Os portais Universo Online (UOL) e Folha Online destacaram na noite de quinta-feira (3) uma única foto da ocupação, apesar das muitas fotos tiradas por Marlene Bergamo, fotógrafa do jornal. A imagem escolhida foi a da fachada do prédio, acompanhada da seguinte legenda: "Reitoria da USP é ocupada e depredada durante protesto ".
Aceitando que o valor-notícia de uma porta arrombada com os escombros do teto espalhados pelo chão é maior do que uma imagem de muitos estudantes sentados em roda discutindo a pauta de reivindicações do movimento, ressalta-se que a contextualização da imagem não foi feita devidamente.
Ao chegar ao prédio, público e acessível a qualquer pessoa, os estudantes se depararam com uma porta fechada. Tentativas frustradas de diálogo com a Reitoria se acumularam desde o início do ano, culminando em um inevitável desgaste e, conseqüentemente, numa atitude extrema. Para ocupar o prédio, a porta teve de ser aberta, o que implicou uso de força, visto a recusa dos seguranças do prédio em abrirem a porta. Os alunos, não obstante, tentaram minimizar os danos desta entrada. Além disso, a ocupação do prédio levou os alunos a zelar pela integridade do prédio.
De rabo preso com o leitor
A predisposição em desqualificar o movimento de ocupação também transparece na matéria " Estudantes ocupam reitoria da USP", veiculada pelo Último Segundo, do IG, às 19h49 do dia 3, que destaca em seu lide uma depredação jamais ocorrida: "Cerca de 300 estudantes ocuparam e depredaram a sede da reitoria da Universidade de São Paulo entre a tarde e a noite desta quinta-feira".
A edição impressa de sexta-feira (4) da Folha explicita a mesma intenção na matéria " Estudantes invadem gabinete da reitoria da USP" ao dar atenção especial para um fato de relevância jornalística duvidosa, mas de grande significância: "Um dos estudantes que não queriam deixá-la entrar [a pró-reitora de pesquisa as USP, Mayana Zatz] estava de chinelo e bermuda".
Não foi diferente o caráter que o portal G1 deu ao acontecimento: o desencontro de informações também se faz presente na cobertura do sítio noticioso das Organizações Globo. Na matéria "USP: ocupação segue até o fim de semana ", publicada na sexta-feira (4), às 20h55, uma das reivindicações dos ocupantes, que aparece na declaração de uma estudante, é reproduzida de modo equivocado: "Um dos pontos principais que queremos é o repúdio aos decretos do governador José Serra".
Mesmo antes da ocupação, a requisição do movimento estudantil sempre foi no sentido de exigir um posicionamento público da reitoria quanto aos decretos do governador José Serra, fosse ela favorável ou não a eles. No texto "Alunos criam sua própria `Virada Cultural´ durante ocupação na USP ", publicado no mesmo portal, às 04h56 do dia seguinte, a fala da estudante aparece retificada: "Um dos pontos principais que queremos é uma posição da USP sobre os decretos do governador José Serra".
Mas o portal voltou ao erro inicial com a notícia " Alunos e reitoria da USP marcam novo encontro para discutir ocupação", publicada às 15h00 do mesmo dia, na qual aparece novamente, logo no subtítulo, a reivindicação distorcida: "Alunos querem que a universidade se oponha a decretos do governo".
Em virtude dos abundantes exemplos de mau uso do material jornalístico, os ocupantes o prédio decidiram vetar a entrada de jornalistas já na noite do dia 3. A intermediação com a imprensa é feita pela Comissão de Comunicação, que abrange uma equipe de voluntários que produz internamente todo o material a ser distribuído e faz a atualização online da ocupação pelo blogue do movimento. Já foram mais de dez mil acessos à página, que conta com informações sobre a ocupação, fotos e entrevistas. Há ainda uma emissora de rádio via internet (Rádio da Ocupação FM – 106.7 MHz).
Importante ressaltar que as pautas apresentadas em nossas ações midiáticas apontam para um cenário de mobilização bastante anterior à ocupação. Problemas de infra-estrutura física e docente na USP, por exemplo, são assuntos recorrentes e de fácil acesso à imprensa. Nessa perspectiva, os equívocos ou omissões na cobertura sobre as demandas de Universidade apresentados pela mídia são sintomáticos do desinteresse dos principais veículos de comunicação em pautar e acompanhar qualitativamente as condições da educação pública paulista.
Bem, adonahernia.blogspot.com divulgou o recado.
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Amar é exigir dos outros um pouco além daquilo tudo que eles já estão nos dando
Acordo tarde invariavelmente nunca antes do Sol me aquecer, após o meio-dia, entre o início e o fim da tarde. Deito noite e durmo apenas madrugada dentro, quando as coisas estão quase para acontecer, quando a mente finalmente está para clarear e os pesadelos já não mais podem pautar minhas canções de ninar. Sonho preto e branco como sonham os cachorros que se encolhem pelas sarjetas e pelas guias. Nunca lembro a última frase dita antes do último gole de birita e me sinto bem em não lembrar. Realmente não dou muito valor ao tempo que passou e nem ao que falta passar. Não espero por más recordações dou apenas a mínima para as boas. Já se foi, como se foi a vida de um contínuo aposentado que só espera a próxima partida de bilhar. Tem dias que me esqueço até que tenho dedos nos pés e nos dias que sinto vida, sinto a batata da perna pulsar. Lembro-me sempre quem sou e sinto medo em quem posso me tornar. Já não sinto tanta falta do amor que um dia achei que existia e nem sinto pena de quem acha que um dia eu poderia amar. Não importa nada amar. Amar é só uma maneira de preencher o tempo vazio com uma impressão falsa e egoísta de felicidade repartida. Amar é exigir dos outros um pouco além daquilo tudo que eles já estão nos dando. Tenho uma bolha de sangue na cabeça prontinha pra explodir e não posso me dar ao luxo de exigir amor seja lá de quem for. Não tenho o direito de exigir qualquer sentimento. Isto não quer dizer que não posso relaxar e sentar na cadeira de balanço enquanto trago pra dentro de meu peito, um pouco mais de fumaça pra minha vida.
INJURIADO
Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém, não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim
Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você não está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim
Chico Buarque
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém, não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim
Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você não está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim
Chico Buarque
terça-feira, 15 de maio de 2007
Não. Para mim foi apenas um escorregão. É o que eu acredito. Ela estava cansada. Andava muito cansada. O corpo cansado. Sua mente trabalhava demais e o corpo não acompanhava. Para mim ela teve um apagão. Segundos. Eu já tive vários apagões. Você tá alí, sentado bebendo, e o corpo resolve desligar. Não dá outra, você cai de cara no balcão. O corpo dela desligou. Ela não estava em uma mesa. Para mim foi isso, mas isso e eu, são as coisas que menos importam agora.
domingo, 13 de maio de 2007
domingo, 6 de maio de 2007
É ASSIM QUE É
Tá difícil postar alguma coisa
to me equilibrando na cortina da varanda
to estendendo meu corpo atrás da geladeira
to vendo se dá pra secar
não tá fácil, to meio à toa
sem poder ficar
to à toa se poder deitar
to assando batata na geladeira
esperando a vida me beijar
eu sei que não deveria
mas é como devo estar.
eu sei que não poderia
mas é como posso ficar.
que alguém venha beber comigo
to esperando,
mas que seja breve
não tenho sono pra esperar por tão pouco.
to me equilibrando na cortina da varanda
to estendendo meu corpo atrás da geladeira
to vendo se dá pra secar
não tá fácil, to meio à toa
sem poder ficar
to à toa se poder deitar
to assando batata na geladeira
esperando a vida me beijar
eu sei que não deveria
mas é como devo estar.
eu sei que não poderia
mas é como posso ficar.
que alguém venha beber comigo
to esperando,
mas que seja breve
não tenho sono pra esperar por tão pouco.
terça-feira, 24 de abril de 2007
PORRADAS
a mais eficaz é a de direita, no meu caso
fecho bem a mão e aperto bem os dedos.
cravo as unhas sobre a palma,
firmo o pulso, deixo a arcada escancarada.
faço mira com o canto dos olhos
com a esquerda sempre em guarda.
deixo o cotovelo na altura dos ombros
e só então solto o braço estilingue
bote de cobra cusparada de sapo
bem no meio do nariz do espertalhão
espalhando o espelho pelo espesso chão do quarto.
exato, direto, firme, bem colocado,
que é pro otário cambalear,
sorver bem o impacto.
às vezes, uso a esquerda
sempre depois de desferir a direita
só um jab rápido
só pra confirmar o ato.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
HOJE É DIA DE SÉRGIO MELO
Aos ossos que tanto doem no inverno
Quanto a este puta título, minha querida amante de todas as noites, adonahernia, sabe muito bem do que o Sergião tá falando. A leitura vai rolar hoje, lá no Masp, o primeiro texto de teatro do Sérgio Melo. O cara além de um grande poeta é um grande brother. De vez em quando eu tomo umas com ele. O Sérgio é um dos caras talentosos e bacanas que conheço há não muito tempo. Ele, o Pierre, o Kim, o Kitagawa, o Paulo F. , o Picanha, entre outros. Talentos que conheci nos botecos da Roosevelt " via Marião" e que se transformaram naqueles amigos fiéis que você tem prazer de encontrar pra conversar e tomar umas.
É o primeiro texto pra teatro do cara. A leitura será feita pelo Mário e pelo grande ator Nelson Peres (este, um dos grandes talentos do teatro brasileiro) - lí que o Sérgio fez o texto para eles. A direção é da Soledad Yung. Eu não vou perder. E pra dar uma "aguinha na boca", dê uma olhada no texto que ele colocou hoje em seu blog:
Minha consciência me chamando na responsa
“E aí, Sergio?”
“E aí?”
“Tudo bem?”
“Tudo.”
“Como assim, tudo?”
“Ué, cê perguntou, eu respondi.”
“Como pode tá tudo bem? E a puta pilantragem que fizeram com você ontem no sítio do seu cunhado, cara?”
"É, teve isso.”
“E aí?”“E aí o quê?... Porra, foi pilantragem mesmo, como cê tá dizendo aí, crocodilagem. Os caras premeditaram tudo. Já tavam armando há tempos. Eu já tinha sacado que eles queriam me foder, mas fiquei na minha, não queria sentir tanta pena assim de alguém.”
“Se você já tinha sacado...?”
“Por que não escamei? Queria ver aonde isso ia dar. Acho engraçado as pessoas acharem que tão te fazendo de otário. Mas se juntar o cérebro dos dois não dá um amendoim... Um deles foi até no meu quarto antes, pra ver se eu realmente tava dormindo. Risível, risível.”
“Eu só tinha visto isso em filme.”
“Eu também. Fiquei pensando no meu pai vendo.”
“Seu próprio irmão, cara?”
“Pra você ver... Meu irmão o caralho. Eu tenho dois irmãos. Um casal. Ela tava dormindo lá no sítio. E o outro tava bem longe.”
“E o que se dizia ser seu melhor amigo?”
“Esse é um coitado. Até bandido têm ética, e ele agiu como aquela mina, a Suzane, abriu a porta de casa pro namoradinho matar os pais dela. Mas antes se certificou de que os seus velhos tavam realmente dormindo, como ele fez.”
“E você, o que fez?”
“Na hora?”
“É.”
“Nada. Subi pra acender um cigarro. Mas antes deixei os caras verem que eu estava vendo eles armando a bomba. Um deles, o coitado aí de quem acabei de falar, deu um pulo de susto e arregalou os olhos que nem um rato. Eu senti uma espécie de pena e nojo. Mais nojo. Talvez ele tenha pensado que ia rolar porrada. Mas eu não fiz isso porque com um soco só eu faria a cara dos dois virarem uma, aí ia ter que chamar o Resgate, puta chateação... E também pensei nos filhos dele, que também tavam lá e acordaram. Quer dizer, já era muita humilhação ter os filhos vendo um pai numa situação dessas. Eu, pelo menos, não queria isso pra mim, jamais.”
“Caralho, bicho, caralho...”
“Mas o cara nem tá muito preocupado. É pilantra mesmo. Prefiro dormir nos pés da cama de Jack, O Estripador a ter que dividir não os pés da cama, mas o bairro com esse cara.”
“E agora, bicho?”
“Pô, cê me conhece. Não é um tiro só que vai me derrubar, como dizia o Lobão.”
“Mas cê tá legal?”
“Ontem não comi nada, mas hoje tá tudo certo.”
“E a leitura de hoje?”
“Opa, estarei lá. Os caras vão botar pra quebrar. E é isso que importa. Só isso.”
Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno
Texto : Sérgio Melo
Direção : Soledad Yung
com Mário Bortolotto e Nelson Peres
Hoje - 19h30 no MASP (Av. Paulista, 1578)
Quanto a este puta título, minha querida amante de todas as noites, adonahernia, sabe muito bem do que o Sergião tá falando. A leitura vai rolar hoje, lá no Masp, o primeiro texto de teatro do Sérgio Melo. O cara além de um grande poeta é um grande brother. De vez em quando eu tomo umas com ele. O Sérgio é um dos caras talentosos e bacanas que conheço há não muito tempo. Ele, o Pierre, o Kim, o Kitagawa, o Paulo F. , o Picanha, entre outros. Talentos que conheci nos botecos da Roosevelt " via Marião" e que se transformaram naqueles amigos fiéis que você tem prazer de encontrar pra conversar e tomar umas.
É o primeiro texto pra teatro do cara. A leitura será feita pelo Mário e pelo grande ator Nelson Peres (este, um dos grandes talentos do teatro brasileiro) - lí que o Sérgio fez o texto para eles. A direção é da Soledad Yung. Eu não vou perder. E pra dar uma "aguinha na boca", dê uma olhada no texto que ele colocou hoje em seu blog:
Minha consciência me chamando na responsa
“E aí, Sergio?”
“E aí?”
“Tudo bem?”
“Tudo.”
“Como assim, tudo?”
“Ué, cê perguntou, eu respondi.”
“Como pode tá tudo bem? E a puta pilantragem que fizeram com você ontem no sítio do seu cunhado, cara?”
"É, teve isso.”
“E aí?”“E aí o quê?... Porra, foi pilantragem mesmo, como cê tá dizendo aí, crocodilagem. Os caras premeditaram tudo. Já tavam armando há tempos. Eu já tinha sacado que eles queriam me foder, mas fiquei na minha, não queria sentir tanta pena assim de alguém.”
“Se você já tinha sacado...?”
“Por que não escamei? Queria ver aonde isso ia dar. Acho engraçado as pessoas acharem que tão te fazendo de otário. Mas se juntar o cérebro dos dois não dá um amendoim... Um deles foi até no meu quarto antes, pra ver se eu realmente tava dormindo. Risível, risível.”
“Eu só tinha visto isso em filme.”
“Eu também. Fiquei pensando no meu pai vendo.”
“Seu próprio irmão, cara?”
“Pra você ver... Meu irmão o caralho. Eu tenho dois irmãos. Um casal. Ela tava dormindo lá no sítio. E o outro tava bem longe.”
“E o que se dizia ser seu melhor amigo?”
“Esse é um coitado. Até bandido têm ética, e ele agiu como aquela mina, a Suzane, abriu a porta de casa pro namoradinho matar os pais dela. Mas antes se certificou de que os seus velhos tavam realmente dormindo, como ele fez.”
“E você, o que fez?”
“Na hora?”
“É.”
“Nada. Subi pra acender um cigarro. Mas antes deixei os caras verem que eu estava vendo eles armando a bomba. Um deles, o coitado aí de quem acabei de falar, deu um pulo de susto e arregalou os olhos que nem um rato. Eu senti uma espécie de pena e nojo. Mais nojo. Talvez ele tenha pensado que ia rolar porrada. Mas eu não fiz isso porque com um soco só eu faria a cara dos dois virarem uma, aí ia ter que chamar o Resgate, puta chateação... E também pensei nos filhos dele, que também tavam lá e acordaram. Quer dizer, já era muita humilhação ter os filhos vendo um pai numa situação dessas. Eu, pelo menos, não queria isso pra mim, jamais.”
“Caralho, bicho, caralho...”
“Mas o cara nem tá muito preocupado. É pilantra mesmo. Prefiro dormir nos pés da cama de Jack, O Estripador a ter que dividir não os pés da cama, mas o bairro com esse cara.”
“E agora, bicho?”
“Pô, cê me conhece. Não é um tiro só que vai me derrubar, como dizia o Lobão.”
“Mas cê tá legal?”
“Ontem não comi nada, mas hoje tá tudo certo.”
“E a leitura de hoje?”
“Opa, estarei lá. Os caras vão botar pra quebrar. E é isso que importa. Só isso.”
Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno
Texto : Sérgio Melo
Direção : Soledad Yung
com Mário Bortolotto e Nelson Peres
Hoje - 19h30 no MASP (Av. Paulista, 1578)
sábado, 21 de abril de 2007
CHAPA QUENTE
E este é o brother Paulo F. Ele é o cara dos bastidores desta mostra. Aguentar a gente não é fácil.
São vários atores nas peças precisando de alguma coisa na última hora - lá vai o Paulo F. buscar. Ele também é o cara da bilheteria. E ele é tão durão quanto o Bactéria, só que do jeito dele. Se você for ao Centro Cultural hoje, provavelmente é ele quem irá te receber.
CHAPA QUENTE
Texto : André Kitagawa
Adaptação e Direção : Mário Bortolotto
Elenco : Gabriel Pinheiro, Marisa Lobo Viana, Erika Puga, Marcos "Arroba" Amaral, Paulo "Picanha" de Tharso, Martha Nowill, Walter "Figueiredo" Batata, Francisco Eldo Mendes, Paulinho "Pankada" Faria, Mário Bortolotto.
Sonoplastia : Mário Bortolotto
Iluminação : Mário Bortolotto e Marcelo Montenegro
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Operação de Imagens : Douglas Kim
Cenotécnica : Régis "NêgaDete" dos Santos
Produção : Fernanda D´Umbra
Assist. de Produção : Paulo F
Sábado : 21h
Centro Cultural São Paulo Ingresso : R$ 15
Até 29/04
terça-feira, 17 de abril de 2007
Efeito Urtigão - Bônus
Somente hoje e amanhã. Puta peça. Vi várias vezes com o Mário e o Joeli Pimentel. Vi agora também com o Picanha no lugar do Joeli. Como existe talento espalhado por aí. O Mário esbanja e percebe isso fácil, na mesa do bar, na rua, em qualquer boteco. O Picanha esbanja isso fácil, na mesa do bar, na rua, em qualquer boteco.
O Picanha recebe a bola e joga ela do peito ao chão em um só movimento, sutil, preciso, perfeito. O Mário? Preciso falar alguma coisa do Mário? É o mesmo Mário e, como um bom vinho, alcançando a excelência com o tempo. E do texto? Preciso falar alguma coisa do texto? Sempre achei este um dos melhores textos do Mário. Sempre achei Urtigão uma das melhores peças do grupo. Este texto remete a um outro tempo do Cemitério. Remete também a um outro tempo do Bortolotto - ao menos para mim. E é muito bom a Mostra ter trazido tudo isso de volta.
Estas duas últimas apresentações entram no lugar de Felizes Para Sempre que substituiria Tempo de Trégua. Sinto pelo Tempo de Trégua, mas esta é a melhor colher de chá que o Cemitério poderia oferecer para o público que se achegou mais recentemente. É a chance de conhecer melhor o trabalho do Mário. É a faixa-bônus desta IV Mostra.
Efeito Urtigão
Texto - Mário Bortolotto.
Com Mário e Picanha.
CCSP - 21h
Pode ser que você tome um conhaque com eles depois, lá no Limoeiro.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Assim nasce um cineasta...
Cecato canta Marisa Monte
Com: André Cecato e Batata
Direção: Sergio Mello
Preparação de atores: Brahma Toledo
Duração: 01 minuto e 16 segundos
http://www.youtube.com/watch?v=EUzFcfucJQE
Postado por Sergio Mello
Ovelhas que voam se perdem no céu
Últimos dois dias de apresentação.
Texto : Daniel Pellizzari
Adaptação e Direção : Mário Bortolotto
Elenco : Pedro Vicente, Pablo Perosa, Tainá Muller, Wladimir Trevizzano, Thiago "Carcacinha" Pinheiro, Zeza Mota, Ralph Maizzo, Alessandro "Robocop" Bartel, Fábio "Xepa" Espósito, Walter "Batata" Figueiredo, Didio Perini, Ziza Brizola, Paulo "Deus" Jordão, Mari "Apucarana", Fernanda D´Umbra e Nelson Peres.
Sonoplastia e Iluminação : Mário Bortolotto
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Cenotécnica : Régis "NêgaDete" Santos
Produção : Fernanda D´Umbra
Assist.de produção : Paulo F
Quinta e Sexta
No Centro Cultural São Paulo (Sala Ademar Guerra / Porão)
21h
Ingresso : R$ 15
Texto : Daniel Pellizzari
Adaptação e Direção : Mário Bortolotto
Elenco : Pedro Vicente, Pablo Perosa, Tainá Muller, Wladimir Trevizzano, Thiago "Carcacinha" Pinheiro, Zeza Mota, Ralph Maizzo, Alessandro "Robocop" Bartel, Fábio "Xepa" Espósito, Walter "Batata" Figueiredo, Didio Perini, Ziza Brizola, Paulo "Deus" Jordão, Mari "Apucarana", Fernanda D´Umbra e Nelson Peres.
Sonoplastia e Iluminação : Mário Bortolotto
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Cenotécnica : Régis "NêgaDete" Santos
Produção : Fernanda D´Umbra
Assist.de produção : Paulo F
Quinta e Sexta
No Centro Cultural São Paulo (Sala Ademar Guerra / Porão)
21h
Ingresso : R$ 15
Pra que que eu como pó no porão?
É pra isso. Pra mostrar em que eu acredito e do que eu sou feito. Pra sair de lá correndo para o limoeiro, drenado, por conta da apresentação. Pra ouvir a rapaziada rindo quando o Bêbado(Xepa) chama o Escritor(Robocop) de gordo cuzão, ou quando a gargalhada soa fácil quando o Pedrernesto(Didio) resolve acabar de vez com a Mina do Cartório(Ziza), ou ainda, pra ver os casais da platéia se abraçando na cena do Nelsinho e da Fernanda.
É pra isso que eu como pó no porão e por isso que passei esta última semana com a garganta impregnada de uma gosma esquisita e o pulmão carregado de catarro - eu fumo e por isso eu sei que isso não é do cigarro, ou pelo menos não somente dele.
E quando eu leio um texto de alguém que ninguém sabe quem é, falando com tanto carinho do trabalho da gente, percebo que sempre valeu a pena comer todo aquele pó.
O texto foi mandado pro e-mail do Mário e ele reproduziu no blog dele. Eu reproduzo aqui :
__________________________________
Assisti a três peças da IV mostra do Cemitério de Automóveis e saí cada dia mais embevecida!
A companhia está fazendo 25 anos de existência e bancando pra nós, reles espectadores, uma grande festa de “Porão”.
Tudo rola por conta da própria companhia: iluminação, figurino, som, produção, roteiro, adaptação. Os próprios atores se misturam à técnica para dar conta da montagem e troca de cenário.
O mais curioso é ver o resultado dessa festa citadina.
É mais ou menos assim: você começa descendo um caracol de escadas e quando acha que chegou ao fim lá vem outra descida, o que chega a ser propício para uma mostra do “Cemitério”.
Já no porão, não se pode esperar por cadeiras estofadas, ar condicionado ou uma boa acústica. Se contente com um canto na arquibancada de madeira e deixe o som que rola ao início de cada espetáculo te invadir. Como a música é boa, você logo se esquece da falta de comodidade. Feito isso é só esperar o milagre.
Um anjo de nome Marcelo Montenegro dá os acordes da sonoplastia e iluminação com a perfeição de um maestro, enquanto no palco, com pouco ou as vezes nenhum cenário, você se depara com verdadeiras feras que engrandecem a peça calcados apenas em seu próprio talento e na fascinação de um texto que por si só já dá ao espetáculo os méritos de supremacia.
Eu sempre saio de lá em estado de graça, algo assim, parecido como “descer ao céu”...
É possível ver o talento de cada uma daquelas pessoas, que não são “estrelas”, não estão na mídia, mas que tem méritos mais que suficiente para muito assédio e grande fortuna.
É uma pena que a maioria das pessoas se contente com estórias vazias e inventadas, só para dar ibope, e pior, que acreditem nelas...
Eu prefiro a verdade crua e quente dos textos do Mário; as produções sem ostentação e luxo, mas de extremo bom gosto e, sobretudo, competência da Fernanda; de presenciar o talento nato de personalidades como: André Ceccato, Gabriel Pinheiro, Paulo de Tharso, Marcos Amaral, Érika Puga, Marisa Viana, André Collazzi, Fábio Espósito, Walter Figueiredo, dentre muitos outros, dando um aparte especial para o Régis e Deus.
Parabéns a todos vocês que fazem do Cemitério de Automóveis essa super companhia. E mais uma vez muito obrigada por cada espetáculo.
Grande abraço.
Gisele Cristine Ferreira
Um grande abraço pra você Gisele, e quando você aparecer lá no porão de novo, fala com a gente.
É pra isso que eu como pó no porão e por isso que passei esta última semana com a garganta impregnada de uma gosma esquisita e o pulmão carregado de catarro - eu fumo e por isso eu sei que isso não é do cigarro, ou pelo menos não somente dele.
E quando eu leio um texto de alguém que ninguém sabe quem é, falando com tanto carinho do trabalho da gente, percebo que sempre valeu a pena comer todo aquele pó.
O texto foi mandado pro e-mail do Mário e ele reproduziu no blog dele. Eu reproduzo aqui :
__________________________________
Assisti a três peças da IV mostra do Cemitério de Automóveis e saí cada dia mais embevecida!
A companhia está fazendo 25 anos de existência e bancando pra nós, reles espectadores, uma grande festa de “Porão”.
Tudo rola por conta da própria companhia: iluminação, figurino, som, produção, roteiro, adaptação. Os próprios atores se misturam à técnica para dar conta da montagem e troca de cenário.
O mais curioso é ver o resultado dessa festa citadina.
É mais ou menos assim: você começa descendo um caracol de escadas e quando acha que chegou ao fim lá vem outra descida, o que chega a ser propício para uma mostra do “Cemitério”.
Já no porão, não se pode esperar por cadeiras estofadas, ar condicionado ou uma boa acústica. Se contente com um canto na arquibancada de madeira e deixe o som que rola ao início de cada espetáculo te invadir. Como a música é boa, você logo se esquece da falta de comodidade. Feito isso é só esperar o milagre.
Um anjo de nome Marcelo Montenegro dá os acordes da sonoplastia e iluminação com a perfeição de um maestro, enquanto no palco, com pouco ou as vezes nenhum cenário, você se depara com verdadeiras feras que engrandecem a peça calcados apenas em seu próprio talento e na fascinação de um texto que por si só já dá ao espetáculo os méritos de supremacia.
Eu sempre saio de lá em estado de graça, algo assim, parecido como “descer ao céu”...
É possível ver o talento de cada uma daquelas pessoas, que não são “estrelas”, não estão na mídia, mas que tem méritos mais que suficiente para muito assédio e grande fortuna.
É uma pena que a maioria das pessoas se contente com estórias vazias e inventadas, só para dar ibope, e pior, que acreditem nelas...
Eu prefiro a verdade crua e quente dos textos do Mário; as produções sem ostentação e luxo, mas de extremo bom gosto e, sobretudo, competência da Fernanda; de presenciar o talento nato de personalidades como: André Ceccato, Gabriel Pinheiro, Paulo de Tharso, Marcos Amaral, Érika Puga, Marisa Viana, André Collazzi, Fábio Espósito, Walter Figueiredo, dentre muitos outros, dando um aparte especial para o Régis e Deus.
Parabéns a todos vocês que fazem do Cemitério de Automóveis essa super companhia. E mais uma vez muito obrigada por cada espetáculo.
Grande abraço.
Gisele Cristine Ferreira
Um grande abraço pra você Gisele, e quando você aparecer lá no porão de novo, fala com a gente.
terça-feira, 3 de abril de 2007
Felizes Para Sempre
Mário Bortolotto e Fernanda D'umbra
Felizes Para Sempre
Então, começa hoje. Parece que a Bárbara Paz melhorou de seu problema na garganta e vai poder fazer. Não é fácil fazer peça no porão, principalmente para quem tá mal da garganta. Os caras - sempre eles, os donos da bola - fizeram uma reforma na sala Adhemar Guerra, o vulgo Porão do Centro Cultural São Paulo. Ficou horrível. Parede onde não deveria ter, um elevador que fala durante o espetáculo e que ninguém sabe onde vai dar, tomadas por todos os lados, um hidrante ... no teto - preciso achar um bombeiro que me explique o que é isso - entre outras coisas inteligentes. Mas o que mais é foda é o pó, a poeira. Os caras rasparam o chão e não colocaram nenhuma resina. Nada resolve. Não adianta molhar, varrer ou fazer seja lá o que for que não seja passar a resina. Estamos todos ficando doentes. Estamos todos ficando sem voz. Que a Bárbara tenha realmente melhorado de seu problema na garganta. Não é qualquer ator que faz peça lá no porão. A Bárbara já fez. Há muito tempo. Não conheço ela. Só sei que antes da Casa dos Artistas ou das novelas do SBT, ela já era do Felizes Para Sempre.
FELIZES PARA SEMPRE
Texto e Direção : Mário Bortolotto
Speak Easy
Com Barbara Paz e Nelson Peres
O Rei do Amor está morto
com Chris Couto e Marcos Cesana
Sweet Emily
com Fernanda D´Umbra e Mário Bortolotto
Sonoplastia e Iluminação : Mário Bortolotto
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Cenotécnica : Régis "NêgaDete" dos Santos
Produção : Fernanda D´Umbra
Assist. de Produção : Paulo F
Terça e quarta : 21h
Centro Cultural São Paulo (Porão / Sala Ademar Guerra)
Rua Vergueiro, 1.000 (Metrô Vergueiro)
Ingressos R$ 15
Até dia 11/04
É Páscoa né? Nossa ...
É lógico que eu quero alguma grana. O tanto que me é caro e doído. O suficiente pra beber com os amigos. O suficiente pra subir com um chicabom de palito e deixar minha mulher feliz. Você pode até pensar que to reclamando ou que to chorando. E dai? Poderia berrar e ainda assim teria razão. Não se trata de indelicadeza ou falta de cooperação. Se trata de grana pra cerveja, pro rango ou pro buzão.
É claro que isso não importa nada. É claro que faço o que faço, e faço o que faço com o maior prazer. Não é só comigo. Apenas estou escrevendo aqui o quê ninguém mais aguenta falar ou ver: Falta de grana.Mas voltando, não importa nada. Vou empurrando com a barriga, como sempre. Contando com a grana dos que me cercam e que não me perguntam nada, e nem mesmo por quê. Queria assar com eles, uma corvina, ferver uma panela de arroz e um molho de alcaparras, pra comer tomando com vinho no feriado, antes do fim de semana. Pode ser que eu pesque naquele lago, aquele, lá de Bragança, onde pais levam seus filhos pra pescar o quê comer, como faziam meus pais e meus tios no rio Paraíba, lá no alto do Rio de Janeiro. Pode ser que eu peça ao peixeiro pra pregar pra semana e pode ser que ele pendure para o ano inteiro. Ele gosta de mim. Pode ser que eu vá pra casa de meus pais e faça paçoca, como fazia meu avô, muito antes dos ovos de Páscoa. É, acho que é isso. Vou fazer paçoca, para mim e para os meus. Vou socar paçoca até o dia amanhecer.
É claro que isso não importa nada. É claro que faço o que faço, e faço o que faço com o maior prazer. Não é só comigo. Apenas estou escrevendo aqui o quê ninguém mais aguenta falar ou ver: Falta de grana.Mas voltando, não importa nada. Vou empurrando com a barriga, como sempre. Contando com a grana dos que me cercam e que não me perguntam nada, e nem mesmo por quê. Queria assar com eles, uma corvina, ferver uma panela de arroz e um molho de alcaparras, pra comer tomando com vinho no feriado, antes do fim de semana. Pode ser que eu pesque naquele lago, aquele, lá de Bragança, onde pais levam seus filhos pra pescar o quê comer, como faziam meus pais e meus tios no rio Paraíba, lá no alto do Rio de Janeiro. Pode ser que eu peça ao peixeiro pra pregar pra semana e pode ser que ele pendure para o ano inteiro. Ele gosta de mim. Pode ser que eu vá pra casa de meus pais e faça paçoca, como fazia meu avô, muito antes dos ovos de Páscoa. É, acho que é isso. Vou fazer paçoca, para mim e para os meus. Vou socar paçoca até o dia amanhecer.
sábado, 31 de março de 2007
Pedrernesto
Estreamos o Ovelhas...Ufa. Rolou. Ainda não foi o melhor, ao menos da minha parte. Não é fácil fazer o Pedrernesto, são bifes imensos e não tem troca com outro personagem. Eu faço o Pedrernesto narrador. O Didio, o próprio Pedrernesto. Eu conto a história, da cadeia. O Didio dá vida a ela. É um jogo louco. Tem o tempo da narração e o tempo da interpretação do Didio. Tudo tem que ser sincronizado, como botar som em vídeo. É muito texto. No primeiro dia de ensaio o Xepa me viu decorando o texto e riu. Perguntou pra mim se eu já sabia do "mito" do Pedreernesto. É claro que eu sabia. Dois atores travaram suas interpretações em suas respectivas estréias. Isso é o quê de pior pode acontecer com um ator em cena. O Mário, um dia antes da estréia e vendo escancarada minha insegurança em relação ao texto, falou: "Estuda o texto filho da puta, não quero ver tua cara antes de você saber todo o texto, você conhece o "mito" do ..."
Eu estudei e, no último ensaio eu tinha pelo menos condição de contar a história, só então consegui começar a pensar em interpretação. A Fernanda deu um toque, simples, mas que foi fundamental. Falou que eu devia apenas contar a história, como se eu estivesse na Associação ou na mesa de um bar, que eu precisava só de uma pequena respirada entre as frases. Ela matou em cheio. Consegui achar o caminho para começar a fazer o Pedrernesto no último ensaio antes da peça. E foi lá, durante a peça, que tudo aconteceu. Descobri o porquê dos outros atores terem travado com este personagem. É ali, na boca de cena, quando um outro fator começa a alterar o ritmo da narração e deixa o ator de calças curtas, a interação da platéia. A cada gesto do Didio casado com a narração, a platéia ia a baixo e , se você tá habituado a dar o texto em cima, na deixa do outro ator, com este novo fator, você tem que mudar o ritmo e dar mais pausa entre as falas. Se você não der esta pausa, vai dar o texto em cima do riso da platéia, as pessoas vão perder o fio da história e aí, baubau cena. É nesta hora que parece que o chão vai afundar, é nesta hora que o texto some da sua cabeça e você pode entrar em pânico e mandar a peça toda pro buraco. É o "fator platéia". Não aconteceu comigo. Quebrei o "mito".
É claro que esqueci toques importantes do Mário como não olhar muito para o chão ou dar o texto de frente para o público. O Marcelo me falou que tem momentos que eu demonstro ansiedade em esperar a deixa (não é isso, mas é isso que aparenta). Vou corrigir. Também inverti umas palavras no final, enfim, errei bastante. Mas não travei. Contei a história e o público entendeu. Agora sim vou poder começar a lapidar o Pedreernesto. Tenho certeza que na última apresentação estará bem bacana - fiquei com um puta frio na barriga, mas nunca duvidei da minha capacidade. A segunda apresentação já foi bem melhor.
Valeu Marião, valeu Fernanda, valeu Marcelo, valeu elenco, por terem confiado em mim e em nenhum momento exercerem algum tipo de pressão. Valeu Ana, por ter segurado minha ansiedade e minhas angustias. Acho que não deixei as pessoas nervosas e isso ajudou as pessoas a me darem crédito e confiança - foi fundamental (apesar que, depois da estréia, o Nelsinho veio pra mim e disse que podia ver o nervosismo nos meus olhos). Valeu. Agora quero outros desafios.
Eu estudei e, no último ensaio eu tinha pelo menos condição de contar a história, só então consegui começar a pensar em interpretação. A Fernanda deu um toque, simples, mas que foi fundamental. Falou que eu devia apenas contar a história, como se eu estivesse na Associação ou na mesa de um bar, que eu precisava só de uma pequena respirada entre as frases. Ela matou em cheio. Consegui achar o caminho para começar a fazer o Pedrernesto no último ensaio antes da peça. E foi lá, durante a peça, que tudo aconteceu. Descobri o porquê dos outros atores terem travado com este personagem. É ali, na boca de cena, quando um outro fator começa a alterar o ritmo da narração e deixa o ator de calças curtas, a interação da platéia. A cada gesto do Didio casado com a narração, a platéia ia a baixo e , se você tá habituado a dar o texto em cima, na deixa do outro ator, com este novo fator, você tem que mudar o ritmo e dar mais pausa entre as falas. Se você não der esta pausa, vai dar o texto em cima do riso da platéia, as pessoas vão perder o fio da história e aí, baubau cena. É nesta hora que parece que o chão vai afundar, é nesta hora que o texto some da sua cabeça e você pode entrar em pânico e mandar a peça toda pro buraco. É o "fator platéia". Não aconteceu comigo. Quebrei o "mito".
É claro que esqueci toques importantes do Mário como não olhar muito para o chão ou dar o texto de frente para o público. O Marcelo me falou que tem momentos que eu demonstro ansiedade em esperar a deixa (não é isso, mas é isso que aparenta). Vou corrigir. Também inverti umas palavras no final, enfim, errei bastante. Mas não travei. Contei a história e o público entendeu. Agora sim vou poder começar a lapidar o Pedreernesto. Tenho certeza que na última apresentação estará bem bacana - fiquei com um puta frio na barriga, mas nunca duvidei da minha capacidade. A segunda apresentação já foi bem melhor.
Valeu Marião, valeu Fernanda, valeu Marcelo, valeu elenco, por terem confiado em mim e em nenhum momento exercerem algum tipo de pressão. Valeu Ana, por ter segurado minha ansiedade e minhas angustias. Acho que não deixei as pessoas nervosas e isso ajudou as pessoas a me darem crédito e confiança - foi fundamental (apesar que, depois da estréia, o Nelsinho veio pra mim e disse que podia ver o nervosismo nos meus olhos). Valeu. Agora quero outros desafios.
sexta-feira, 23 de março de 2007
Beethoven
É, a Ana foi me buscar de madrugada. Eu liguei pra ela e ela sacou que eu tava precisando. Eu não pedi para ela vir, mas ela veio e me salvou. A mim e ao Picanha. Eu já tava começando a virar Beethoven e quando isso acontece é foda. Há tempos isto não acontece. Algumas pessoas já me viram Beethoven e riram pra caralho. Outras não acharam nada engraçado. Uma vez, em Itanhaém com o Marcelo e outros amigos, virei Beethovem da tarde para a noite. Naquele dia eu e o Branquinho, ou o Guapinho, que é como os caras da vila chamam o Marcelo, saímos pedindo dinheiro pela praça pra comprar bebida. Não tinhamos sequer o dinheiro da passagem para voltar para São Paulo e, claro, este era nosso argumento pra pedir grana. As pessoas até que davam - pelo menos as que se incluiam no rol das que achavam graça. Dentro do boteco a coisa não era bem assim. O Beethoven não era muito bem vindo pelos caiçaras que bebiam por lá. E foi justamente com um caiçara gigante que Beethoven resolveu brincar. O Negão diz que eu até batia na barriga do cara, xingava ele e pedia uma dose de pinga. Foi o Negão que me salvou. Me tirou de lá e contornou a situação com os caiçaras. Mais ou menos como o "Emerson" fazia com o "Marcos", ambos personagens do "Efeito Urtigão", a peça do Mário que fala com um humor sofisticado de tristeza, solidão e brodagem entre dois caras que não mais conseguem se preocupar em conviver com os amigos e com todo o resto louco da humanidade. O Negão foi o meu Emerson naquele dia em Itanhaém. A Ana foi meu Emerson ontem, na praça Roosevelt, quando Beethoven estava prestes a ressuscitar. O Negão eu já salvei algumas vezes e estamos quites. A Ana, sinceramente eu espero nunca precisar salvá-la.
Assinar:
Postagens (Atom)