sexta-feira, 23 de março de 2007

Beethoven

É, a Ana foi me buscar de madrugada. Eu liguei pra ela e ela sacou que eu tava precisando. Eu não pedi para ela vir, mas ela veio e me salvou. A mim e ao Picanha. Eu já tava começando a virar Beethoven e quando isso acontece é foda. Há tempos isto não acontece. Algumas pessoas já me viram Beethoven e riram pra caralho. Outras não acharam nada engraçado. Uma vez, em Itanhaém com o Marcelo e outros amigos, virei Beethovem da tarde para a noite. Naquele dia eu e o Branquinho, ou o Guapinho, que é como os caras da vila chamam o Marcelo, saímos pedindo dinheiro pela praça pra comprar bebida. Não tinhamos sequer o dinheiro da passagem para voltar para São Paulo e, claro, este era nosso argumento pra pedir grana. As pessoas até que davam - pelo menos as que se incluiam no rol das que achavam graça. Dentro do boteco a coisa não era bem assim. O Beethoven não era muito bem vindo pelos caiçaras que bebiam por lá. E foi justamente com um caiçara gigante que Beethoven resolveu brincar. O Negão diz que eu até batia na barriga do cara, xingava ele e pedia uma dose de pinga. Foi o Negão que me salvou. Me tirou de lá e contornou a situação com os caiçaras. Mais ou menos como o "Emerson" fazia com o "Marcos", ambos personagens do "Efeito Urtigão", a peça do Mário que fala com um humor sofisticado de tristeza, solidão e brodagem entre dois caras que não mais conseguem se preocupar em conviver com os amigos e com todo o resto louco da humanidade. O Negão foi o meu Emerson naquele dia em Itanhaém. A Ana foi meu Emerson ontem, na praça Roosevelt, quando Beethoven estava prestes a ressuscitar. O Negão eu já salvei algumas vezes e estamos quites. A Ana, sinceramente eu espero nunca precisar salvá-la.

quarta-feira, 21 de março de 2007

De novo na rede

Dona Hérnia me trouxe de volta para a net. Ela resolveu acabar com minha preguiça e permitiu que eu escrevesse nosso caso de amor. Dona Hérnia não gosta de posições confortáveis por longos períodos de tempo. Dona Hérnia vem atrapalhando meu brinde com os amigos, minhas peladas de domingo. Dona Hérnia rí à toa a cada dorflex - ela sabe que drogas leves nunca me fizeram a cabeça. Dona Hérnia me apresentou a hungaros, indianos e japoneses e me ensinou o que é paciência e compaixão. Ensinou também o que é raiva, ódio e inquietação. Dona Hérnia tá apertando minha mente e não posso fazer nada. Dona Hérnia tem dado risada das minhas trepadas. Dona hérnia tem me deixado muito tempo sozinho. Dona Hérnia tá sossegada e quer me levar para todos os lugares, tá se achando a Tal. Deixa estar, Dona Hérnia. Vou te carregando nas costas enquanto você acredita que estou ficando pelo caminho.

Foi lá que começou

Acho que o Mário era assistente do Fauzi Arap em um curso ou algo como um curso. Foi o Marcelo Montenegro quem me chamou para ir pegar um livro com o cara - Mamãe não voltou do Supermercado - fiquei de cara pelo título e pelo livro. Nessa época eu fazia Jornalismo em Mogi - faculdade que larguei no último semestre, bem a tempo de não me tornar um jornalista de merda ou um merda de um jornalista. Trocamos uma idéia rápida com o cara e fomos embora. Alí eu comecei a fazer teatro. Já tinhamos visto Medusa de Rayban e o que veríamos logo em seguida seria Santidade, que o Mário fazia junto com o Antonio (que já morreu) e o Níveo (que participou das duas primeiras mostras do Cemitério) com direção do Fauzi. Cara, o que foi aquilo. O cara soltava o texto na cara da platéia e a platéia, atônita, não desgrudava os olhos do cara. Quem já assistiu Kerouac sabe o que eu tô falando. Eu tô falando de Ator, cara. Com A maiúsculo que é para não deixar dúvida. Lembro que o Mário saiu detonado no final do espetáculo e acho que fomos tomar umas. Eu nunca tinha visto isso. Eu via atores sairem de espetáculos como semi-deuses, perfumados, em comitiva rumo ao Planeta mais próximo, e longe, mais muito longe dos demais mortais da Terra - quem já trombou o Zé Celso e sua Comitiva sabe do que eu estou falando. Naquele momento eu ví um operário após o apito da fábrica, um catador de algodão chegando do campo, empunhando uma gaita, abrindo uma roda para os amigos. Uma dignidade, meu, uma dignidade. Cara, eu nunca tinha visto aquilo.
Acho que isso era lá por 97/98. De lá para cá, muita coisa aconteceu entre eu e o pessoal do Cemitério antes que eu subisse em um palco. As pessoas foram muito generosas comigo e acho que é porque são meus amigos e porque eu até devo ter um pouco de talento, mas é principalmente cara, por que eu tive a oportunidade de me aproximar de todos essas pessoas que o Cemitério consegue agregar e envolver em torno de todos eles, a oportunidade de aprender e se divertir com ninguém menos que esses malucos do Cemitério. Foram tantas coisas, tanta Mostra, tanto Show, como diria o Pinduca, ...tantas trocas de roupa...Pois é, hoje eu faço teatro com os caras, consegui Drt e tudo, mas principalmente, continuo sorrindo e me divertindo com eles. Outro dia eu conto mais do que veio pelo caminho, o meu e onde o meu encontrou o caminho dos caras.