sábado, 31 de março de 2007

Pedrernesto

Estreamos o Ovelhas...Ufa. Rolou. Ainda não foi o melhor, ao menos da minha parte. Não é fácil fazer o Pedrernesto, são bifes imensos e não tem troca com outro personagem. Eu faço o Pedrernesto narrador. O Didio, o próprio Pedrernesto. Eu conto a história, da cadeia. O Didio dá vida a ela. É um jogo louco. Tem o tempo da narração e o tempo da interpretação do Didio. Tudo tem que ser sincronizado, como botar som em vídeo. É muito texto. No primeiro dia de ensaio o Xepa me viu decorando o texto e riu. Perguntou pra mim se eu já sabia do "mito" do Pedreernesto. É claro que eu sabia. Dois atores travaram suas interpretações em suas respectivas estréias. Isso é o quê de pior pode acontecer com um ator em cena. O Mário, um dia antes da estréia e vendo escancarada minha insegurança em relação ao texto, falou: "Estuda o texto filho da puta, não quero ver tua cara antes de você saber todo o texto, você conhece o "mito" do ..."

Eu estudei e, no último ensaio eu tinha pelo menos condição de contar a história, só então consegui começar a pensar em interpretação. A Fernanda deu um toque, simples, mas que foi fundamental. Falou que eu devia apenas contar a história, como se eu estivesse na Associação ou na mesa de um bar, que eu precisava só de uma pequena respirada entre as frases. Ela matou em cheio. Consegui achar o caminho para começar a fazer o Pedrernesto no último ensaio antes da peça. E foi lá, durante a peça, que tudo aconteceu. Descobri o porquê dos outros atores terem travado com este personagem. É ali, na boca de cena, quando um outro fator começa a alterar o ritmo da narração e deixa o ator de calças curtas, a interação da platéia. A cada gesto do Didio casado com a narração, a platéia ia a baixo e , se você tá habituado a dar o texto em cima, na deixa do outro ator, com este novo fator, você tem que mudar o ritmo e dar mais pausa entre as falas. Se você não der esta pausa, vai dar o texto em cima do riso da platéia, as pessoas vão perder o fio da história e aí, baubau cena. É nesta hora que parece que o chão vai afundar, é nesta hora que o texto some da sua cabeça e você pode entrar em pânico e mandar a peça toda pro buraco. É o "fator platéia". Não aconteceu comigo. Quebrei o "mito".

É claro que esqueci toques importantes do Mário como não olhar muito para o chão ou dar o texto de frente para o público. O Marcelo me falou que tem momentos que eu demonstro ansiedade em esperar a deixa (não é isso, mas é isso que aparenta). Vou corrigir. Também inverti umas palavras no final, enfim, errei bastante. Mas não travei. Contei a história e o público entendeu. Agora sim vou poder começar a lapidar o Pedreernesto. Tenho certeza que na última apresentação estará bem bacana - fiquei com um puta frio na barriga, mas nunca duvidei da minha capacidade. A segunda apresentação já foi bem melhor.
Valeu Marião, valeu Fernanda, valeu Marcelo, valeu elenco, por terem confiado em mim e em nenhum momento exercerem algum tipo de pressão. Valeu Ana, por ter segurado minha ansiedade e minhas angustias. Acho que não deixei as pessoas nervosas e isso ajudou as pessoas a me darem crédito e confiança - foi fundamental (apesar que, depois da estréia, o Nelsinho veio pra mim e disse que podia ver o nervosismo nos meus olhos). Valeu. Agora quero outros desafios.