segunda-feira, 23 de abril de 2007

HOJE É DIA DE SÉRGIO MELO

Aos ossos que tanto doem no inverno

Quanto a este puta título, minha querida amante de todas as noites, adonahernia, sabe muito bem do que o Sergião tá falando. A leitura vai rolar hoje, lá no Masp, o primeiro texto de teatro do Sérgio Melo. O cara além de um grande poeta é um grande brother. De vez em quando eu tomo umas com ele. O Sérgio é um dos caras talentosos e bacanas que conheço há não muito tempo. Ele, o Pierre, o Kim, o Kitagawa, o Paulo F. , o Picanha, entre outros. Talentos que conheci nos botecos da Roosevelt " via Marião" e que se transformaram naqueles amigos fiéis que você tem prazer de encontrar pra conversar e tomar umas.
É o primeiro texto pra teatro do cara. A leitura será feita pelo Mário e pelo grande ator Nelson Peres (este, um dos grandes talentos do teatro brasileiro) - lí que o Sérgio fez o texto para eles. A direção é da Soledad Yung. Eu não vou perder. E pra dar uma "aguinha na boca", dê uma olhada no texto que ele colocou hoje em seu blog:


Minha consciência me chamando na responsa

“E aí, Sergio?”
“E aí?”
“Tudo bem?”
“Tudo.”
“Como assim, tudo?”
“Ué, cê perguntou, eu respondi.”
“Como pode tá tudo bem? E a puta pilantragem que fizeram com você ontem no sítio do seu cunhado, cara?”
"É, teve isso.”
“E aí?”“E aí o quê?... Porra, foi pilantragem mesmo, como cê tá dizendo aí, crocodilagem. Os caras premeditaram tudo. Já tavam armando há tempos. Eu já tinha sacado que eles queriam me foder, mas fiquei na minha, não queria sentir tanta pena assim de alguém.”
“Se você já tinha sacado...?”
“Por que não escamei? Queria ver aonde isso ia dar. Acho engraçado as pessoas acharem que tão te fazendo de otário. Mas se juntar o cérebro dos dois não dá um amendoim... Um deles foi até no meu quarto antes, pra ver se eu realmente tava dormindo. Risível, risível.”
“Eu só tinha visto isso em filme.”
“Eu também. Fiquei pensando no meu pai vendo.”
“Seu próprio irmão, cara?”
“Pra você ver... Meu irmão o caralho. Eu tenho dois irmãos. Um casal. Ela tava dormindo lá no sítio. E o outro tava bem longe.”
“E o que se dizia ser seu melhor amigo?”
“Esse é um coitado. Até bandido têm ética, e ele agiu como aquela mina, a Suzane, abriu a porta de casa pro namoradinho matar os pais dela. Mas antes se certificou de que os seus velhos tavam realmente dormindo, como ele fez.”
“E você, o que fez?”
“Na hora?”
“É.”
“Nada. Subi pra acender um cigarro. Mas antes deixei os caras verem que eu estava vendo eles armando a bomba. Um deles, o coitado aí de quem acabei de falar, deu um pulo de susto e arregalou os olhos que nem um rato. Eu senti uma espécie de pena e nojo. Mais nojo. Talvez ele tenha pensado que ia rolar porrada. Mas eu não fiz isso porque com um soco só eu faria a cara dos dois virarem uma, aí ia ter que chamar o Resgate, puta chateação... E também pensei nos filhos dele, que também tavam lá e acordaram. Quer dizer, já era muita humilhação ter os filhos vendo um pai numa situação dessas. Eu, pelo menos, não queria isso pra mim, jamais.”
“Caralho, bicho, caralho...”
“Mas o cara nem tá muito preocupado. É pilantra mesmo. Prefiro dormir nos pés da cama de Jack, O Estripador a ter que dividir não os pés da cama, mas o bairro com esse cara.”
“E agora, bicho?”
“Pô, cê me conhece. Não é um tiro só que vai me derrubar, como dizia o Lobão.”
“Mas cê tá legal?”
“Ontem não comi nada, mas hoje tá tudo certo.”
“E a leitura de hoje?”
“Opa, estarei lá. Os caras vão botar pra quebrar. E é isso que importa. Só isso.”

Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno

Texto : Sérgio Melo
Direção : Soledad Yung
com Mário Bortolotto e Nelson Peres
Hoje - 19h30 no MASP (Av. Paulista, 1578)


2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu, meu amigo... Abração.

Anônimo disse...

Batata, este anônimo aí sou eu. Esqueci de botar o nome. Valeu de novo. Abração.