quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O tempo não tem sido cordial comigo e a sensação é que tudo está me escapando, tudo está se perdendo. Não, eu não estou arrependido de nada, ainda não estou cansado de nada também. Só estou começando a ficar muito longe do passado e a felicidade do futuro tá ficando na tristeza do presente rapidamente. O presente é sempre triste. A felicidade é sempre parte do passado. O meu amigo Douglas Kim me disse algo parecido com isso uma vez e parece que só agora eu estou compreendendo. Acho que estava embevecido por algum ego qualquer para dar ouvidos à ele naquela época. Tenho medo de ficar nessa - compreendendo as coisas posteriormente. Tenho medo de que meus amigos se cansem de tentarem me dizer as coisas. Tenho medo de não poder mais ouvir meus amigos e tenho medo de não ter mais o que dizer para eles. O Marião tá querendo substituir os quadros da parede. Eu só estou começando a colocá-los e acho que eles já não me dizem mais nada. Meu pai tá ficando velho e sem visão, mas não demonstra o menor sinal de cansaço, ou de tristeza. Queria saber se ele passou por isso aos trinta e sete. Queria saber se ele algum dia olhou para a vida e desejou abandoná-la - se pensou em tirar o time de campo por alguns momentos e deixar apenas a agua cair em sua cabeça no vestiário. Tenho me dado muito bem com a agua ultimamente. Meus banhos têm sido cada vez mais prolongados e quentes, como se só ali, debaixo do chuveiro, existisse a possibilidade de viver sem me enganar. Eu sei que não deveria esperar certezas da vida, aliás, eu sei bem que não deveria esperar nada dela. Eu sei que deveria é continuar cuidando das minhas doenças e tomando meus porres, um atrás do outro, apenas para continuar seguindo em frente. Dia destes fui caminhar em um parque perto daqui. Sentei no primeiro banco vago e fiquei lá, bundão no cimento vendo os cães e seus donos passarem. Tinha um texto comigo e não consegui ler. Fiquei ali, parado, com a sensação de que estava apenas de carôna em algum navio sem destino e com um bando de loucos gritando e correndo à minha volta. Tentei dizer para eles que não adiantava correr pra lugar algum. Tentei dizer que o destino era incerto e que a correnteza não tinha direção, mas seria em vão gritar para aquela gente, assim como foi em vão minha fuga para aquele parque pra fazer sei lá o que. Enfim, estou assim, acordando pra jantar e dormindo antes do café. Ando assim, com saudades do tempo em que sorrir era algo tão fácil como hoje me é fácil dormir na mesa de um bar.

6 comentários:

Pierre Masato disse...

Brother,
Só posso mandar um Forte Abraço, não sei o que dizer.

Anônimo disse...

É isso. Acho que estamos todos no mesmo barco, às vezes aparece uma bóia, uma ilha, mas na maior parte do tempo viver é procurar entender o que a gente tá fazendo aqui além de comer e cagar e dormir e se frustar. Que sua bóia da vez apareça logo, e que te segure muito tempo...
Um beijo e força aí.

Pedro Pellegrino disse...

Belo texto.Abraço.

Batata disse...

Obrigado, Pedro. Um abraço.

Batata disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Batata disse...

Valeu Fabiana, você é uma das pessoas que jogam bóias para os homens que nadam perdidos no mar
grande abraço.