sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

CURTA EM MOGI

Bem, já fiz alguns trampos com vídeo. Alguns deles bem legais tipo os que fiz com a Bedrock Vídeo, outros bacanas como o primeiro que dirigi junto de meu brother Peterson Queiróz, outros ruins e que nunca ninguém viu, alguns legais que também ninguém nunca viu. Pois é, vou fazer um curta novamente e baseado em um conto meu. É, eu também escrevo algumas coisas ruins que também pouca gente leu, mas esse conto eu vou publicar aqui pra vocês:


Na companhia de minha velha lata.

O cara sentou-se à mesa da frente de costas para mim. Ela sentou-se de frente. Eu só conseguia olhar a parte de fora de uma de suas coxas brancas. Do rosto, eu só conseguia ver a franja atrás da cabeça dele. Ele era velho. Digo não pela calvície, aliás ele não era calvo, mas por causa dos pêlos brancos que escapavam de suas orelhas. Nojento. Ela também sentia o mesmo, eu sei, porém disfarçava algum interesse ou algum tipo de servidão. Foda-se. Ela não está nem aí para mim mesmo. Só queria que o garçom me trouxesse mais um uísque antes de servi-los. Tentei disfarçar. Queria apenas tomar meu uísque e cair fora. Talvez nem me percebessem. Não deu. Ela viu e me chamou para a mesa. Apresentou o velho pra mim. Não deveria ter ido. O cara me estendeu sua mão e disse que não pagaria nada. Mandei-o à merda. Quando o garçom chegou, virei de uma vez o copo e me arranquei largando uma nota de vinte na mesa. Ela ameaçou vir atrás, mas não veio. Desculpou-se com um gesto de cabeça. Olhei a ela e ao velho com desprezo. Foda-se. Tomara que o câncer demore bastante para matá-lo. Talvez assim eu tenha tempo de recuperar o meu dinheiro, no jogo e na cama.

Foi em uma mesa de poker que conheci Betina. Eu não estava no meu melhor dia. Aquela bunda me trazendo uísques, um atrás do outro, estava atrapalhando minha concentração. Resolvi pegar a garrafa e sair do jogo. Arrastei-me até o balcão. Não demorou muito pra ela sentar do meu lado.

- Você é sempre tão ruim assim? Aqueles caras estavam te depenando no pôquer.

Foi assim, com certo deboche e com a certeza de que eu não havia desgrudado os olhos de sua bunda, que Betina me abordou.

-Não, só quando me servem bebida assim, vagabunda. Respondi.

Ela sorriu me convidando para dar um volta... meu horário já acabou.

Caminhamos a esmo algumas quadras antes de pegar a beira da linha do trem. Apenas trocamos olhares e risadas durante o caminho, quase uma paquera juvenil. Só um pouco antes de sua casa nossas mãos se encontraram e nos envolveram em um rápido e forte abraço, seguido de um leve beijo. Ela morava com seu pai, um ferroviário aposentado que por ela esperava de cuecas samba-canção e chapéu de cowboy no portão de sua casa. Fiquei observando de longe aquela linda garota entrar. Pude ouvir seu pai gritar com ela antes dela olhar novamente para mim e sumir pra dentro da casa.
Voltei ao pôquer no dia seguinte à procura de Betina. Ela não estava. Sentei-me à mesa e Carlão, um moleque chato que sempre aparecia disposto a perder algum dinheiro para os velhos sacanas que jogavam no Hell’s, falou:
-Hoje não tem uísque pra você.
-Sem problema! Respondi rindo, tirando minha lata do bolso.
–Estou sempre preparado. A garota não veio? Perguntei sem dar muita ênfase.
-Ela não vem mais. Respondeu-me Antenor, um velho safado que escondia suas fichas sob um velho chapéu e que me devia grana no jogo. Cobrei minha grana. Ele disse que eu teria de esperar: Você sabe, o tratamento, os remédios. Tive raiva daquele verme. Sabia que ele tinha algum no bolso. Mandei ele calar a boca. Não estava muito a fim de papo. Isso criou uma leve tensão durante nosso jogo, quebrada apenas por uma risada sardônica libertada por Carlão, Ele perguntou:
-E aí, como foi com Betina ontem à noite? Você chupou a boceta raspadinha dela?
Antes que eu falasse alguma coisa, Antenor desferiu um golpe de direita na cara do Carlão. -Não precisava disso. Disse para Antenor enquanto Carlão se recompunha, colocando-o de volta na cadeira. -Esse moleque fala demais, respondeu-me Antenor. Todos nós sabíamos que Antenor estava sempre armado. Antes de voltarmos ao pôquer, levantei-me da mesa deixando minhas fichas. Antenor zombou de mim:
-Você não tem estomago pra esse jogo. Voltei debruçando-me na mesa e olhando-o cara a cara, disse:
-Aposto que acabo com isso antes que vc possa puxar esta merda que tem na cinta, seu doente covarde!
Virei de costas com a certeza de que ele não iria puxar a arma e sai do salão.
Encontrei Betina no caminho de casa. Cumprimentamos-nos com um longo beijo.
Rolava Bob Dylan quando acordei em sua cama. Ela me olhava sorrindo maliciosamente enquanto bebia uma cerveja. Perguntou se eu também queria. Acenei com a cabeça que sim e fitei seu corpo liso e torneado dirigindo-se a cozinha. Ela realmente tinha uma bunda muito linda. Pude ainda observar sua silueta formar-se na luz da geladeira. Ela me deu a garrafa enquanto eu calçava minhas botas. Contrariada, me xingou:
-Seu filho da puta, achei que fosse um cara diferente. Respondi, em pé e abotoando minha calça: - Caras diferentes não trepam como eu. Ela atirou a garrafa em meu peito e se cobriu com o lençol mandando-me embora.
Sai correndo, apressado para pegar o último trem e só então, na frente do guichê, abrindo minha carteira, percebi que a vagabunda havia roubado todo o meu dinheiro. Sentei no chão e tomei um gole da minha velha lata de uísque de costas, enquanto o trem partia da estação.

2 comentários:

Anônimo disse...

Porra brother, puta conto bacana, fiquei afim pra caralho de ver o vídeo. grande abraço.
Kleber Felix

Batata disse...

Assim que ele ficar pronto vai pintar por aqui. Abraço.